Um
dos capítulos mais interessantes da história de Abraão está em
Gênesis 14 e trata da batalha entre os quatro reis do Egito contra
os monarcas locais. Os arqueólogos consideram esse capítulo como o
mais repleto de detalhes em sua autenticidade. A precisão geográfica
de Gênesis 14 é indiscutível. Além disso, o raro termo técnico
{hanikim) usado pelos criados de Abraão (Gn 14.14) aparece nos
textos da Execração Egípcia e em uma carta
de Taanaque datada da primeira metade do segundo milênio a.C. A
ocorrência dessa primitiva e rara palavra comprova a tremenda
autenticidade do texto. As viagens de Abraão na Mesopotâmia e suas
caminhadas pela Palestina combinam bem com o quadro geral que a
arqueologia obteve dos primórdios do segundo milênio. Essa era a
época em que a Palestina estava recebendo novos grupos nômades e a
montanhosa região central que Abraão escolheu para viver era
esparsamente habitada, enquanto o vale do Jordão, as regiões
costeiras e outros domínios agrícolas eram dominados pelos cananeus
e outros. É provável que Abraão tenha feito parte desse grande
movimento de pessoas usualmente identificadas como amorreus (Gn
15.16) o que pode explicar as alianças de Abraão com os amorreus
Aner, Escol e Manre (Gn 14.13,24) e a justificativa para Ezequiel
acusar a nação pecadora de ter um fundador amorreu (Ez 16.3-5).
Abraão passou algum tempo no Neguebe e ao longo da rota comercial de
Cades-Barneia até Sur (na fronteira oriental do Egito). Durante
séculos, antes ou depois do período da metade da Idade do Bronze I
(2.100 a 1.850 a.C.) havia colônias estabelecidas no Neguebe.
Ruínas
de estações desse caminho, que puderam ser datadas dessa época
através do estudo das cerâmicas, estabelecem a rota da caravana
pelo interior através do norte do deserto do Sinai. A data exata
para Abraão não pode ser determinada através da arqueologia,
embora a maioria das autoridades tenha estabelecido o início do
segundo milênio. Usando os personagens bíblicos, e assumindo que
não houve nenhuma interrupção, pode-se obter o ano 2.000 a.C. como
uma data aproximada para o nascimento de Abraão. Essa data está
bastante de acordo com as descobertas arqueológicas.
No
entanto, objeções foram levantadas em reação à ocorrência do
termo filisteus em Gênesis 21.32,34. Os guerreiros filisteus da
época de Davi somente chegaram à costa da Palestina por volta de
1.200 a.C. Entretanto, C. H. Gordon observou que o povo do mar
Indo-europeu, como por exemplo os minoanos da ilha de Creta, haviam
imigrado para Canaã durante todo o segundo milênio. O cananeu
Abimeleque de Gerar provavelmente fazia parte de uma onda anterior de
filisteus amantes da paz, embora o nome filisteu em si mesmo possa
ser um anacronismo oriundo dos povos hostis da época de Saul e de
Davi. Veja Cronologia, AT; Idade Patriarcal.
História
e Importância de Sua Vida Abraão iniciou sua vida em Ur dos
Caldeus, na Mesopotâmia. Dali, Tera, seu pai, mudou-se com a família
para Harã. Tanto Ur como Harã eram centros de adoração da lua. O
nome de seu pai, Tera, provavelmente significava “Ter é (o divino)
irmão”. Acredita-se que ‘Ter”
seja uma variação dialética para o deus lua e era especialmente
popular no distrito de Harã como foi confirmado pelos registros
assírios. Mas Abraão foi convocado pela voz de Deus a deixar o seu
cenário pagão, para ir a uma terra divinamente prometida à sua
semente. Após sua chegada à Palestina, Abraão passou muitos dias
principalmente nas proximidades de três centros no sul, Betei,
Hebrom (Manre) e Berseha. Aparentemente, ele havia entrado em Canaã
pelo lado leste, assim como Jacó em seu retorno de Padã-Arã,
atravessando o Jordão nas proximidades de Suco te, parando primeiro
para adorar a Deus fora de Siquém (Gn 12.5-7). Entretanto, nas
proximidades de Betei, Abraão construiu o seu segundo altar (Gn
12.8; 13.3) e invocou o nome do Senhor Jeová. Depois de uma curta
peregrinação no Egito por causa da fome, Abraão retornou ao local
do altar, nas proximidades de Betei, onde se separou de seu sobrinho
Ló, que preferiu residir nas verdes planícies do Jordão
onde as cidades cananitas de Sodoma e Gomorra estavam situadas.
Então, Abraão viajou para o Sul, para uma planície
nas montanhas, chamada Manre (Hebrom) ao sui da cadeia central de
montanhas. Nesse lugar ele construiu um outro altar ao Senhor.
Após
recuperar Ló e sua família das mãos dos mesopotâmios que os
haviam aprisionado, Abraão pagou dízimos a Melquisedeque, rei de
Salém. Não se pode precisar se Melquisedeque estava em Jerusalém,
mas o texto diz claramente que ele era um rei sacerdote que
representava El Elyon - um outro título do Deus de Abraão. O texto
em Gênesis 20-22 fala sobre a permanência de Abraão no Neguebe,
especialmente nas proximidades de Berseba. O relato bíblico afirma
que Abraão não só cavou um poço, como deu ao lugar o nome de
Berseba (“poço do juramento”) por causa do pacto que havia feito
com Abimeleque, o chefe filisteu daquela área.
Deus
renovou sua promessa a Abraão em diversas ocasiões (cf. Gnl3.14-18;
15; 17; 22.15-19). Ênfase deve ser atribuída à fé de Abraão na
promessa feita por Deus em relação tanto à terra como à sua
semente, apesar da contínua infertilidade e avançada idade de sua
esposa. O nome de Abrão, que significa “pai exaltado” ou “meu
pai é exaltado” foi mudado para Abraão que significa, “pai de
uma multidão”. O pacto feito com Deus foi selado pelo sinal da
circuncisão e por fim Isaque, o filho da promessa (G14.28) foi
concedido àquele que seria sempre conhecido como o “pai de todos
os que creem” (Em 4,11). Na verdade, Abraão creu na promessa de
Deus de ter um filho na velhice e “isso lhe foi imputado como
justiça” (Gn 15.4-6; Rm 4,1-4; Tg 2.22,23; G1 3.6; 5.6). Antes que
o filho Isaque lhe fosse dado através do ventre amortecido de Sara
(Hb 11.11) sua serva egípcia Agar deu à luz Ismael, através de quem
os árabes de nossos dias traçam sua origem até Abraão.
O
nome de Isaque se origina da raiz hebraica, sahaq, que significa
“rir”. O riso de Abraão (Gn 17,17) parece ter sido uma expressão
de alegria, ou até de admiração, enquanto o riso de Sara (Gn
18.11-15) era uma expressão de incredulidade que ela,
vergonhosamente, tentou desmentir. No devido tempo, Isaque tornou-se
o núcleo principal de todas as esperanças de Abraão; isso explica
a importância do episódio do oferecimento de Isaque em sacrifício.
O dilema que Abraão experimentou era que a promessa de Deus não
poderia se cumprir se Isaque morresse; no entanto Deus estava pedindo
Isaque a Abraão. O texto em Hebreus 11.17-19 mostra o comentário
Divino sobre esse acontecimento, mostrando como a fé de Abraão
triunfou ao crer na fidelidade de Deus, pois “considerou que Deus
era poderoso para até dos mortos” ressuscitar Isaque (v. 18), se
necessário, para cumprir a sua promessa.