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As leis acerca da propriedade - Êxodo capítulo 21


As leis acerca da propriedade
1 - SE alguém furtar boi ou ovelha, e o degolar ou vender, por um boi pagará cinco bois, e pela ovelha quatro ovelhas.
2 - Se o ladrão for achado roubando, e for ferido, e morrer, o que o feriu não será culpado do sangue.
3 - Se o sol houver saído sobre ele, o agressor será culpado do sangue; o ladrão fará restituição total; e se não tiver com que pagar, será vendido por seu furto.
4 - Se o furto for achado vivo na sua mão, seja boi, ou jumento, ou ovelha, pagará o dobro.
5 - Se alguém fizer pastar o seu animal num campo ou numa vinha, e largá-lo para comer no campo de outro, o melhor do seu próprio campo e o melhor da sua própria vinha restituirá.
6 - Se irromper um fogo, e pegar nos espinhos, e queimar a meda de trigo, ou a seara, ou o campo, aquele que acendeu o fogo totalmente pagará o queimado.
7 - Se alguém der ao seu próximo dinheiro, ou bens, a guardar, e isso for furtado da casa daquele homem, o ladrão, se for achado, pagará o dobro.
8 - Se o ladrão não for achado, então o dono da casa será levado diante dos juízes, a ver se não pôs a sua mão nos bens do seu próximo.
9 - Sobre todo o negócio fraudulento, sobre boi, sobre jumento, sobre gado miúdo, sobre roupa, sobre toda a coisa perdida, de que alguém disser que é sua, a causa de ambos será levada perante os juízes; aquele a quem condenarem os juízes pagará em dobro ao seu próximo.
10 - Se alguém der a seu próximo a guardar um jumento, ou boi, ou ovelha, ou outro animal, e este morrer, ou for dilacerado, ou arrebatado, ninguém o vendo,
11 - Então haverá juramento do SENHOR entre ambos, de que não pôs a sua mão nos bens do seu próximo; e seu dono o aceitará, e o outro não o restituirá.
12 - Mas, se de fato lhe tiver sido furtado, pagá-lo-á ao seu dono.
13 - Porém se lhe for dilacerado, trá-lo-á em testemunho disso, e não pagará o dilacerado.
14 - E se alguém pedir emprestado a seu próximo algum animal, e for danificado ou morto, não estando presente o seu dono, certamente o pagará.
15 - Se o seu dono estava presente, não o pagará; se foi alugado, será pelo seu aluguel.

As leis acerca da imoralidade e idolatria
16 - Se alguém enganar alguma virgem, que não for desposada, e se deitar com ela, certamente a dotará e tomará por sua mulher.
17 - Se seu pai inteiramente recusar dar-lha, pagará ele em dinheiro conforme ao dote das virgens.
18 - A feiticeira não deixarás viver.
19 - Todo aquele que se deitar com animal, certamente morrerá.
20 - O que sacrificar aos deuses, e não só ao SENHOR, será morto.
21 - O estrangeiro não afligirás, nem o oprimirás; pois estrangeiros fostes na terra do Egito.
22 - A nenhuma viúva nem órfão afligireis.
23 - Se de algum modo os afligires, e eles clamarem a mim, eu certamente ouvirei o seu clamor.
24 - E a minha ira se acenderá, e vos matarei à espada; e vossas mulheres ficarão viúvas, e vossos filhos órfãos.
25 - Se emprestares dinheiro ao meu povo, ao pobre que está contigo, não te haverás com ele como um usurário; não lhe imporeis usura.
26 - Se tomares em penhor a roupa do teu próximo, lho restituirás antes do pôr do sol,
27 - Porque aquela é a sua cobertura, e o vestido da sua pele; em que se deitaria? Será pois que, quando clamar a mim, eu o ouvirei, porque sou misericordioso.
28 - A Deus não amaldiçoarás, e o príncipe dentre o teu povo não maldirás.
29 - As tuas primícias, e os teus licores não retardarás; o primogênito de teus filhos me darás.
30 - Assim farás dos teus bois e das tuas ovelhas: sete dias estarão com sua mãe, e ao oitavo dia mos darás.
31 - E ser-me-eis homens santos; portanto não comereis carne despedaçada no campo; aos cães a lançareis.

Os irmãos de José descem outra vez ao Egito - Gênesis capítulo 43

Os irmãos de José descem outra vez ao Egito
1 - E A FOME era gravíssima na terra.
2 - E aconteceu que, como acabaram de comer o mantimento que trouxeram do Egito, disse-lhes seu pai: Voltai, comprai-nos um pouco de alimento.
3 - Mas Judá respondeu-lhe, dizendo: Fortemente nos protestou aquele homem, dizendo: Não vereis a minha face, se o vosso irmão não vier convosco.
4 - Se enviares conosco o nosso irmão, desceremos e te compraremos alimento;
5 - Mas se não o enviares, não desceremos; porquanto aquele homem nos disse: Não vereis a minha face, se o vosso irmão não vier convosco.
6 - E disse Israel: Por que me fizeste tal mal, fazendo saber àquele homem que tínheis ainda outro irmão?
7 - E eles disseram: Aquele homem particularmente nos perguntou por nós, e pela nossa parentela, dizendo: Vive ainda vosso pai? Tendes mais um irmão? E respondemos-lhe conforme as mesmas palavras. Podíamos nós saber que diria: Trazei vosso irmão?
8 - Então disse Judá a Israel, seu pai: Envia o jovem comigo, e levantar-nos-emos, e iremos, para que vivamos e não morramos, nem nós, nem tu, nem os nossos filhos.
9 - Eu serei fiador por ele, da minha mão o requererás; se eu não o trouxer, e não o puser perante a tua face, serei réu de crime para contigo para sempre.
10 - E se não nos tivéssemos detido, certamente já estaríamos segunda vez de volta.
11 - Então disse-lhes Israel, seu pai: Pois que assim é, fazei isso; tomai do mais precioso desta terra em vossos vasos, e levai ao homem um presente: um pouco do bálsamo e um pouco de mel, especiarias e mirra, terebinto e amêndoas;
12 - E tomai em vossas mãos dinheiro em dobro, e o dinheiro que voltou na boca dos vossos sacos tornai a levar em vossas mãos; bem pode ser que fosse erro.
13 - Tomai também a vosso irmão, e levantai-vos e voltai àquele homem;
14 - E Deus Todo-Poderoso vos dê misericórdia diante do homem, para que deixe vir convosco vosso outro irmão, e Benjamim; e eu, se for desfilhado, desfilhado ficarei.

Os irmãos de José jantam com ele
15 - E os homens tomaram aquele presente, e dinheiro em dobro em suas mãos, e a Benjamim; e levantaram-se, e desceram ao Egito, e apresentaram-se diante de José.
16 - Vendo, pois, José a Benjamim com eles, disse ao que estava sobre a sua casa: Leva estes homens à casa, e mata reses, e prepara tudo; porque estes homens comerão comigo ao meio-dia.
17 - E o homem fez como José dissera, e levou-os à casa de José.
18 - Então temeram aqueles homens, porquanto foram levados à casa de José, e diziam: Por causa do dinheiro que dantes voltou nos nossos sacos, fomos trazidos aqui, para nos incriminar e cair sobre nós, para que nos tome por servos, e a nossos jumentos.
19 - Por isso chegaram-se ao homem que estava sobre a casa de José, e falaram com ele à porta da casa,
20 - E disseram: Ai! senhor meu, certamente descemos dantes a comprar mantimento;
21 - E aconteceu que, chegando à estalagem, e abrindo os nossos sacos, eis que o dinheiro de cada um estava na boca do seu saco, nosso dinheiro por seu peso; e tornamos a trazê-lo em nossas mãos;
22 - Também trouxemos outro dinheiro em nossas mãos, para comprar mantimento; não sabemos quem tenha posto o nosso dinheiro nos nossos sacos.
23 - E ele disse: Paz seja convosco, não temais; o vosso Deus, e o Deus de vosso pai, vos tem dado um tesouro nos vossos sacos; o vosso dinheiro me chegou a mim. E trouxe-lhes fora a Simeão.
24 - Depois levou os homens à casa de José, e deu-lhes água, e lavaram os seus pés; também deu pasto aos seus jumentos.
25 - E prepararam o presente, para quando José viesse ao meio-dia; porque tinham ouvido que ali haviam de comer pão.
26 - Vindo, pois, José à casa, trouxeram-lhe ali o presente que tinham em suas mãos; e inclinaram-se a ele até à terra.
27 - E ele lhes perguntou como estavam, e disse: Vosso pai, o ancião de quem falastes, está bem? Ainda vive?
28 - E eles disseram: Bem está o teu servo, nosso pai vive ainda. E abaixaram a cabeça, e inclinaram-se.
29 - E ele levantou os seus olhos, e viu a Benjamim, seu irmão, filho de sua mãe, e disse: Este é vosso irmão mais novo de quem falastes? Depois ele disse: Deus te dê a sua graça, meu filho.
30 - E José apressou-se, porque as suas entranhas comoveram-se por causa do seu irmão, e procurou onde chorar; e entrou na câmara, e chorou ali.
31 - Depois lavou o seu rosto, e saiu; e conteve-se, e disse: Ponde pão.
32 - E serviram-lhe à parte, e a eles também à parte, e aos egípcios, que comiam com ele, à parte; porque os egípcios não podem comer pão com os hebreus, porquanto é abominação para os egípcios.
33 - E assentaram-se diante dele, o primogênito segundo a sua primogenitura, e o menor segundo a sua menoridade; do que os homens se maravilhavam entre si.
34 - E apresentou-lhes as porções que estavam diante dele; porém a porção de Benjamim era cinco vezes maior do que as porções deles todos. E eles beberam, e se regalaram com ele.

Os irmãos de José descem ao Egito - Gênesis capítulo 42


1 - VENDO então Jacó que havia mantimento no Egito, disse a seus filhos: Por que estais olhando uns para os outros?
2 - Disse mais: Eis que tenho ouvido que há mantimentos no Egito; descei para lá, e comprai-nos dali, para que vivamos e não morramos.
3 - Então desceram os dez irmãos de José, para comprarem trigo no Egito.
4 - A Benjamim, porém, irmão de José, não enviou Jacó com os seus irmãos, porque dizia: Para que lhe não suceda, porventura, algum desastre.
5 - Assim, entre os que iam lá foram os filhos de Israel para comprar, porque havia fome na terra de Canaã.
6 - José, pois, era o governador daquela terra; ele vendia a todo o povo da terra; e os irmãos de José chegaram e inclinaram-se a ele, com o rosto em terra.
7 - E José, vendo os seus irmãos, conheceu-os; porém mostrou-se estranho para com eles, e falou-lhes asperamente, e disse-lhes: De onde vindes? E eles disseram: Da terra de Canaã, para comprarmos mantimento.
8 - José, pois, conheceu os seus irmãos; mas eles não o conheceram.
9 - Então José lembrou-se dos sonhos que havia tido deles e disse-lhes: Vós sois espias, e viestes para ver a nudez da terra.
10 - E eles lhe disseram: Não, senhor meu; mas teus servos vieram comprar mantimento.
11 - Todos nós somos filhos de um mesmo homem; somos homens de retidão; os teus servos não são espias.
12 - E ele lhes disse: Não; antes viestes para ver a nudez da terra.
13 - E eles disseram: Nós, teus servos, somos doze irmãos, filhos de um homem na terra de Canaã; e eis que o mais novo está com nosso pai hoje; mas um já não existe.
14 - Então lhes disse José: Isso é o que vos tenho dito, sois espias;
15 - Nisto sereis provados; pela vida de Faraó, não saireis daqui senão quando vosso irmão mais novo vier aqui.
16 - Enviai um dentre vós, que traga vosso irmão, mas vós ficareis presos, e vossas palavras sejam provadas, se há verdade convosco; e se não, pela vida de Faraó, vós sois espias.
17 - E pô-los juntos, em prisão, três dias.
18 - E ao terceiro dia disse-lhes José: Fazei isso, e vivereis; porque eu temo a Deus.
19 - Se sois homens de retidão, que fique um de vossos irmãos preso na casa de vossa prisão; e vós ide, levai mantimento para a fome de vossa casa,
20 - E trazei-me o vosso irmão mais novo, e serão verificadas vossas palavras, e não morrereis. E eles assim fizeram.
21 - Então disseram uns aos outros: Na verdade, somos culpados acerca de nosso irmão, pois vimos a angústia da sua alma, quando nos rogava; nós porém não ouvimos, por isso vem sobre nós esta angústia.
22 - E Rúben respondeu-lhes, dizendo: Não vo-lo dizia eu: Não pequeis contra o menino; mas não ouvistes; e vedes aqui, o seu sangue também é requerido.
23 - E eles não sabiam que José os entendia, porque havia intérprete entre eles.
24 - E retirou-se deles e chorou. Depois tornou a eles, e falou-lhes, e tomou a Simeão dentre eles, e amarrou-o perante os seus olhos.

Os irmãos de José voltam do Egito
25 - E ordenou José, que enchessem os seus sacos de trigo, e que lhes restituíssem o seu dinheiro a cada um no seu saco, e lhes dessem comida para o caminho; e fizeram-lhes assim.
26 - E carregaram o seu trigo sobre os seus jumentos e partiram dali.
27 - E, abrindo um deles o seu saco, para dar pasto ao seu jumento na estalagem, viu o seu dinheiro; porque eis que estava na boca do seu saco.
28 - E disse a seus irmãos: Devolveram o meu dinheiro, e ei-lo também aqui no saco. Então lhes desfaleceu o coração, e pasmavam, dizendo um ao outro: Que é isto que Deus nos tem feito?
29 - E vieram para Jacó, seu pai, na terra de Canaã; e contaram-lhe tudo o que lhes aconteceu, dizendo:
30 - O homem, o senhor da terra, falou conosco asperamente, e tratou-nos como espias da terra;
31 - Mas dissemos-lhe: Somos homens de retidão; não somos espias;
32 - Somos doze irmãos, filhos de nosso pai; um não mais existe, e o mais novo está hoje com nosso pai na terra de Canaã.
33 - E aquele homem, o senhor da terra, nos disse: Nisto conhecerei que vós sois homens de retidão; deixai comigo um de vossos irmãos, e tomai para a fome de vossas casas, e parti,
34 - E trazei-me vosso irmão mais novo; assim saberei que não sois espias, mas homens de retidão; então vos darei o vosso irmão e negociareis na terra.
35 - E aconteceu que, despejando eles os seus sacos, eis que cada um tinha o pacote com seu dinheiro no seu saco; e viram os pacotes com seu dinheiro, eles e seu pai, e temeram.
36 - Então Jacó, seu pai, disse-lhes: Tendes-me desfilhado; José já não existe e Simeão não está aqui; agora levareis a Benjamim. Todas estas coisas vieram sobre mim.
37 - Mas Rúben falou a seu pai, dizendo: Mata os meus dois filhos, se eu não tornar a trazê-lo para ti; entrega-o em minha mão, e tornarei a trazê-lo.
38 - Ele porém disse: Não descerá meu filho convosco; porquanto o seu irmão é morto, e só ele ficou. Se lhe suceder algum desastre no caminho por onde fordes, fareis descer minhas cãs com tristeza à sepultura.

O encontro de Esaú e Jacó - Gênesis capítulo 33


O encontro de Esaú e Jacó
1 - E LEVANTOU Jacó os seus olhos, e olhou, e eis que vinha Esaú, e quatrocentos homens com ele. Então repartiu os filhos entre Lia, e Raquel, e as duas servas.
2 - E pôs as servas e seus filhos na frente, e a Lia e seus filhos atrás; porém a Raquel e José os derradeiros.
3 - E ele mesmo passou adiante deles e inclinou-se à terra sete vezes, até que chegou a seu irmão.
4 - Então Esaú correu-lhe ao encontro, e abraçou-o, e lançou-se sobre o seu pescoço, e beijou-o; e choraram.
5 - Depois levantou os seus olhos, e viu as mulheres, e os meninos, e disse: Quem são estes contigo? E ele disse: Os filhos que Deus graciosamente tem dado a teu servo.
6 - Então chegaram as servas; elas e os seus filhos, e inclinaram-se.
7 - E chegou também Lia com seus filhos, e inclinaram-se; e depois chegou José e Raquel e inclinaram-se.
8 - E disse Esaú: De que te serve todo este bando que tenho encontrado? E ele disse: Para achar graça aos olhos de meu senhor.
9 - Mas Esaú disse: Eu tenho bastante, meu irmão; seja para ti o que tens.
10 - Então disse Jacó: Não, se agora tenho achado graça em teus olhos, peço-te que tomes o meu presente da minha mão; porquanto tenho visto o teu rosto, como se tivesse visto o rosto de Deus, e tomaste contentamento em mim.
11 - Toma, peço-te, a minha bênção, que te foi trazida; porque Deus graciosamente ma tem dado; e porque tenho de tudo. E instou com ele, até que a tomou.
12 - E disse: Caminhemos, e andemos, e eu partirei adiante de ti.
13 - Porém ele lhe disse: Meu senhor sabe que estes filhos são tenros, e que tenho comigo ovelhas e vacas de leite; se as afadigarem somente um dia, todo o rebanho morrerá.
14 - Ora passe o meu senhor adiante de seu servo; e eu irei como guia pouco a pouco, conforme ao passo do gado que vai adiante de mim, e conforme ao passo dos meninos, até que chegue a meu senhor em Seir.
15 - E Esaú disse: Permite então que eu deixe contigo alguns da minha gente. E ele disse: Para que é isso? Basta que ache graça aos olhos de meu senhor.
16 - Assim voltou Esaú aquele dia pelo seu caminho a Seir.
17 - Jacó, porém, partiu para Sucote e edificou para si uma casa; e fez cabanas para o seu gado; por isso chamou aquele lugar Sucote.

Jacó chega à Siquém e levanta um altar
18 - E chegou Jacó salvo à Salém, cidade de Siquém, que está na terra de Canaã, quando vinha de Padã-Arã; e armou a sua tenda diante da cidade.
19 - E comprou uma parte do campo em que estendera a sua tenda, da mão dos filhos de Hamor, pai de Siquém, por cem peças de dinheiro.
20 - E levantou ali um altar, e chamou-lhe: Deus, o Deus de Israel.

Deus muda o nome de Abrão - Gênesis capítulo 17


1 - SENDO, pois, Abrão da idade de noventa e nove anos, apareceu o SENHOR a Abrão, e disse-lhe: Eu sou o Deus Todo-Poderoso, anda em minha presença e sê perfeito.
2 - E porei a minha aliança entre mim e ti, e te multiplicarei grandissimamente.
3 - Então caiu Abrão sobre o seu rosto, e falou Deus com ele, dizendo:
4 - Quanto a mim, eis a minha aliança contigo: serás o pai de muitas nações;
5 - E não se chamará mais o teu nome Abrão, mas Abraão será o teu nome; porque por pai de muitas nações te tenho posto;
6 - E te farei frutificar grandissimamente, e de ti farei nações, e reis sairão de ti;
7 - E estabelecerei a minha aliança entre mim e ti e a tua descendência depois de ti em suas gerações, por aliança perpétua, para te ser a ti por Deus, e à tua descendência depois de ti.
8 - E te darei a ti e à tua descendência depois de ti, a terra de tuas peregrinações, toda a terra de Canaã em perpétua possessão e ser-lhes-ei o seu Deus.
9 - Disse mais Deus a Abraão: Tu, porém, guardarás a minha aliança, tu, e a tua descendência depois de ti, nas suas gerações.
10 - Esta é a minha aliança, que guardareis entre mim e vós, e a tua descendência depois de ti: Que todo o homem entre vós será circuncidado.
11 - E circuncidareis a carne do vosso prepúcio; e isto será por sinal da aliança entre mim e vós.
12 - O filho de oito dias, pois, será circuncidado, todo o homem nas vossas gerações; o nascido na casa, e o comprado por dinheiro a qualquer estrangeiro, que não for da tua descendência.
13 - Com efeito será circuncidado o nascido em tua casa, e o comprado por teu dinheiro; e estará a minha aliança na vossa carne por aliança perpétua.
14 - E o homem incircunciso, cuja carne do prepúcio não estiver circuncidada, aquela alma será extirpada do seu povo; quebrou a minha aliança.

Deus muda o nome de Sarai
15 - Disse Deus mais a Abraão: A Sarai tua mulher não chamarás mais pelo nome de Sarai, mas Sara será o seu nome.
16 - Porque eu a hei de abençoar, e te darei dela um filho; e a abençoarei, e será mãe das nações; reis de povos sairão dela.
17 - Então caiu Abraão sobre o seu rosto, e riu-se, e disse no seu coração: A um homem de cem anos há de nascer um filho? E dará à luz Sara da idade de noventa anos?
18 - E disse Abraão a Deus: Quem dera que viva Ismael diante de teu rosto!
19 - E disse Deus: Na verdade, Sara, tua mulher, te dará um filho, e chamarás o seu nome Isaque, e com ele estabelecerei a minha aliança, por aliança perpétua para a sua descendência depois dele.
20 - E quanto a Ismael, também te tenho ouvido; eis aqui o tenho abençoado, e fá-lo-ei frutificar, e fá-lo-ei multiplicar grandissimamente; doze príncipes gerará, e dele farei uma grande nação.
21 - A minha aliança, porém, estabelecerei com Isaque, o qual Sara dará à luz neste tempo determinado, no ano seguinte.
22 - Ao acabar de falar com Abraão, subiu Deus de diante dele.

A instituição da circuncisão
23 - Então tomou Abraão a seu filho Ismael, e a todos os nascidos na sua casa, e a todos os comprados por seu dinheiro, todo o homem entre os da casa de Abraão; e circuncidou a carne do seu prepúcio, naquele mesmo dia, como Deus falara com ele.
24 - E era Abraão da idade de noventa e nove anos, quando lhe foi circuncidada a carne do seu prepúcio.
25 - E Ismael, seu filho, era da idade de treze anos, quando lhe foi circuncidada a carne do seu prepúcio.
26 - Naquele mesmo dia foram circuncidados Abraão e Ismael seu filho,
27 - E todos os homens da sua casa, os nascidos em casa, e os comprados por dinheiro ao estrangeiro, foram circuncidados com ele.

Parábola das dez virgens, a parábola dos talentos e o Julgamento das nações - Mateus 25



1 - ENTÃO o reino dos céus será semelhante a dez virgens que, tomando as suas lâmpadas, saíram ao encontro do esposo.
2 - E cinco delas eram prudentes, e cinco loucas.
3 - As loucas, tomando as suas lâmpadas, não levaram azeite consigo.
4 - Mas as prudentes levaram azeite em suas vasilhas, com as suas lâmpadas.
5 - E, tardando o esposo, tosquenejaram todas, e adormeceram.
6 - Mas à meia-noite ouviu-se um clamor: Aí vem o esposo, saí-lhe ao encontro.
7 - Então todas aquelas virgens se levantaram, e prepararam as suas lâmpadas.
8 - E as loucas disseram às prudentes: Dai-nos do vosso azeite, porque as nossas lâmpadas se apagam.
9 - Mas as prudentes responderam, dizendo: Não seja caso que nos falte a nós e a vós, ide antes aos que o vendem, e comprai-o para vós.
10 - E, tendo elas ido comprá-lo, chegou o esposo, e as que estavam preparadas entraram com ele para as bodas, e fechou-se a porta.
11 - E depois chegaram também as outras virgens, dizendo: Senhor, Senhor, abre-nos.
12 - E ele, respondendo, disse: Em verdade vos digo que vos não conheço.
13 - Vigiai, pois, porque não sabeis o dia nem a hora em que o Filho do homem há de vir.

Parábola dos talentos
14 - Porque isto é também como um homem que, partindo para fora da terra, chamou os seus servos, e entregou-lhes os seus bens.
15 - E a um deu cinco talentos, e a outro dois, e a outro um, a cada um segundo a sua capacidade, e ausentou-se logo para longe.
16 - E, tendo ele partido, o que recebera cinco talentos negociou com eles, e granjeou outros cinco talentos.
17 - Da mesma sorte, o que recebera dois, granjeou também outros dois.
18 - Mas o que recebera um, foi e cavou na terra e escondeu o dinheiro do seu senhor.
19 - E muito tempo depois veio o senhor daqueles servos, e fez contas com eles.
20 - Então aproximou-se o que recebera cinco talentos, e trouxe-lhe outros cinco talentos, dizendo: Senhor, entregaste-me cinco talentos; eis aqui outros cinco talentos que granjeei com eles.
21 - E o seu senhor lhe disse: Bem está, servo bom e fiel. Sobre o pouco foste fiel, sobre muito te colocarei; entra no gozo do teu senhor.
22 - E, chegando também o que tinha recebido dois talentos, disse: Senhor, entregaste-me dois talentos; eis que com eles granjeei outros dois talentos.
23 - Disse-lhe o seu senhor: Bem está, bom e fiel servo. Sobre o pouco foste fiel, sobre muito te colocarei; entra no gozo do teu senhor.
24 - Mas, chegando também o que recebera um talento, disse: Senhor, eu conhecia-te, que és um homem duro, que ceifas onde não semeaste e ajuntas onde não espalhaste;
25 - E, atemorizado, escondi na terra o teu talento; aqui tens o que é teu.
26 - Respondendo, porém, o seu senhor, disse-lhe: Mau e negligente servo; sabias que ceifo onde não semeei e ajunto onde não espalhei?
27 - Devias então ter dado o meu dinheiro aos banqueiros e, quando eu viesse, receberia o meu com os juros.
28 - Tirai-lhe pois o talento, e dai-o ao que tem os dez talentos.
29 - Porque a qualquer que tiver será dado, e terá em abundância; mas ao que não tiver até o que tem ser-lhe-á tirado.
30 - Lançai, pois, o servo inútil nas trevas exteriores; ali haverá pranto e ranger de dentes.

Julgamento das nações
31 - E quando o Filho do homem vier em sua glória, e todos os santos anjos com ele, então se assentará no trono da sua glória;
32 - E todas as nações serão reunidas diante dele, e apartará uns dos outros, como o pastor aparta dos bodes as ovelhas;
33 - E porá as ovelhas à sua direita, mas os bodes à esquerda.
34 - Então dirá o Rei aos que estiverem à sua direita: Vinde, benditos de meu Pai, possuí por herança o reino que vos está preparado desde a fundação do mundo;
35 - Porque tive fome, e destes-me de comer; tive sede, e destes-me de beber; era estrangeiro, e hospedastes-me;
36 - Estava nu, e vestistes-me; adoeci, e visitastes-me; estive na prisão, e fostes me ver.
37 - Então os justos lhe responderão, dizendo: Senhor, quando te vimos com fome, e te demos de comer? ou com sede, e te demos de beber?
38 - E quando te vimos estrangeiro, e te hospedamos? ou nu, e te vestimos?
39 - E quando te vimos enfermo, ou na prisão, e fomos ver-te?
40 - E, respondendo o Rei, lhes dirá: Em verdade vos digo que quando o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes.
41 - Então dirá também aos que estiverem à sua esquerda: Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos;
42 - Porque tive fome, e não me destes de comer; tive sede, e não me destes de beber;
43 - Sendo estrangeiro, não me recolhestes; estando nu, não me vestistes; e enfermo, e na prisão, não me visitastes.
44 - Então eles também lhe responderão, dizendo: Senhor, quando te vimos com fome, ou com sede, ou estrangeiro, ou nu, ou enfermo, ou na prisão, e não te servimos?
45 - Então lhes responderá, dizendo: Em verdade vos digo que, quando a um destes pequeninos o não fizestes, não o fizestes a mim.
46 - E irão estes para o tormento eterno, mas os justos para a vida eterna.

Odisséia de Homero - Livro XIV

O herói, por serros e áspera azinhaga,
Segue do porto, à selva, o divo busca
Leal pastor, que lhe afirmou Tritônia
Ser dos escravos dele o mais zeloso.
5 Achava-se ao portal, num sítio alegre
Onde, n’ausência do amo, edificara,
Sem da senhora auxílio ou de Laertes,
Vistoso amplo curral de pedra ensossa;
De espinho sebe em roda, e cerca de achas
10 Do cerne de carvalho externa havia.
Na área em chiqueiros doze conchegados,
Em cada qual cinqüenta, se espojavam
Prenhes porcas; dormiam fora os machos,
Poucos, pois de contínuo aos pretendentes
15 O mais nédio cevado remetia:
Trezentos e sessenta eram por todos.
Ao pé jaziam quatro cães de fila,
Pelo porqueiro maioral mantidos.
Este a seus pés talhava umas sandálias
20 De táureo tinto coiro; três ajudas
As varas pastorar, mandara o quarto
Conduzir constrangido um bom capado,
Que na régia a gulosos recheasse.
Ladrando os brabos cães a Ulisses correm,
25 Que assenta-se manhoso e o bordão larga;
Mas vítima seria, se o porqueiro,
Cair deixando o coiro, à pressa e em gritos
Não viesse a pedradas enchotá-los.
E a ele se virou: “Meus cães, ó velho,
30 Quase, por meu labéu, que te espedaçam,
E os deuses de outras penas me acabrunham:
Choro a engordar os cerdos para estranhos,
E o meu divo senhor quiçá faminto
Vaga de povo em povo, se é que vive
35 E goza a luz do Sol. Comida e vinho
Terás naquela choça, e tu repleto,
Me refiras teus males e aventuras.”
     Na choça introduzido, em ramas densas,
De agreste cabra com velosa pele,
40 Do porqueiro acamadas, pousa Ulisses,
E lho agradece: “Abençoado amigo,
Compensem-te os Supremos o agasalho.”
     Tu respondeste, Eumeu: “Ninguém desprezo,
Qualquer acolherei de ti somenos;
45 Jove os mendigos e hóspedes protege,
Aprova os tênues dons que a medo faço,
Pobre servo, a mancebo submetido!
O Céu de meu senhor veda o regresso,
Que tanto me queria, e, como é de uso
50 Para com bons escravos laboriosos,
A envelhecer aqui, me enriquecera
Com mulher e pecúlio, pois os deuses
Têm prosperado meu serviço. Ai dele!
Pereça toda a geração de Helena,
55 Dano e exício de heróis! Para essa Tróia
Também foi meu senhor vingar o Atrida.”
     E ataca mal o cinto, e dous farroupos
Trazendo, os mata e lhes chamusca pêlo,
Corta, espeta, e no espeto o assado quente
60 Oferece e apolvilha de farinha;
Vinho melífluo em copo de sobreiro
Mistura, à face do hóspede se assenta:
“Anda, ora come do que aos servos cabe;
Os cevados aos procos se reservam,
65 Que do castigo olvidam-se impiedosos.
Néscios! os numes a violência odeiam
E a virtude honram só. De alheias plagas
Invasores hostis, que em naus de espólios
Onustas partem pôr favor de Jove,
70 Temem-se do castigo; os procos, julgo,
Voz divina informou da triste morte.
Nenhum de núpcias trata ou de ir-se embora,
Todos em voraz ócio os bens estragam:
Uma nem duas vítimas lhes bastam;
75 Noites e dias, quantos Jove alterna,
Consomem carnes, ânforas esgotam.
Em Ítaca e no escuro continente,
Não há magnata que possua tanto,
Nem vinte juntos; a resenha escuta:
80 Pastam-lhe em terra firme doze armentos,
E há porcadas iguais, iguais rebanhos,
Vastos cabruns encerros, com pastores
De fora ou do país; nesta ilha mesma,
Guardam fiéis cabreiros onze fatos,
85 E eu rejo estas pocilgas. Nós forçados,
Pensão quotidiana, remetemos
A mais nédia cabeça a tais senhores.”
     Tácito Ulisses come e ávido bebe,
Ideando a vingança; e, confortado,
90 A copa do porqueiro aceita plena,
Jubiloso e veloz: “Rico era e forte
Quem te comprou, qual, hóspede, o apregoas?
Morto o crês pela causa de Agamemnon:
Talvez o conhecesse eu vagamundo;
95 Sabe a etérea mansão, quando o nomeies,
Se ocultar testemunho em mim depares.”
     “Velho, constesta Eumeu, não mais se apoiam
Em peregrino algum a esposa e o filho:
Quanto são mentirosos os mendigos!
100 A senhora os socorre e asila e inquire;
Mas incrédula geme, qual viúva
Que lamenta o marido ao longe extinto.
Urdir hoje uma fábula pretendes,
Para de capa e túnica mudares?
105 As entranhas cães e aves lhe tragaram,
Ou, dos peixes roído, a vaga os ossos
Lançou-lhe à praia e os cobre densa areia.
Morreu, morreu, deixando em luto amigos,
Mormente a mim, que o não terei tão brando,
110 Nem que de pai e mãe voltasse à casa,
Onde a luz vi primeiro e me criaram:
Tão saudoso os não choro e a pátria amada,
Como Ulisses me lembra. Até receio,
Pois tanto me estimava e destinguia,
115 N’ausência nomeá-lo, irmão n’ausência
Mais velho o chamo, a suspirar por ele.”
     E o divo herói: “Bem que emperrado o negues,
Não temerário to assevero e juro,
Ulisses vem; de alvíçaras me aprontas
120 Capa e túnica, inteira vestidura;
Mas, inda que indigente, o prêmio enjeito,
Antes que ele se mostre em seu palácio:
Como do inferno as portas, abomino
Falácias da pobreza. Atesto Jove,
125 De teu amo o lar puro a que me encosto
E a mesa hospitaleira, o anúncio é vero:
Neste ano e lua mesma, ou na vindoura,
Cá de retorno, punirá severo
Os ultrajes da esposa e de seu filho.”
130  Não ganharás alvíçaras, meu velho,
Ajunta Eumeu; não conto mais com ele.
Bebe tranqüilo; outras lembranças volve,
Que este assunto angustia-me e contrista.
Juramentos a parte, oh! se viesse,
135 Qual o anelo, Penélope e Laertes,
E o deiforme Telêmaco. Esta agora
Única planta choro, que ao celeste
Bafo eu supunha igual de rei medrasse
Em garbo, esforço e mente; mas, iluso
140 Por imortal ou por humano, a Pilos
Do pai foi-se em procura, e à volta os procos
O incidiam cruéis, para que arranquem
Da ilha a estirpe do divino Arcésio.
Basta; se escape ou não, toca ao destino,
145 E o Satúrnio o proteja. Ora me explanes
Quem és, de que família, de que terra,
Os infortúnios teus; que exímios nautas
E em que navio aqui te conduziram?
A Ítaca não creio a pé viesses.”
150 Começa Ulisses: “Narrarei sincero.
Se de espaço a lograr teu vinho e pasto,
Incumbido o serviço a outros sendo,
Fôssemos nesta choça, inda que um giro
Decorresse anual, não me era fácil
155 Expor as penas que infligiu-me a sorte.
     “O Hilácides Castor, na extensa Creta.
Gerou-me numa pelice comprada,
E a par de seus legítimos criou-me
E honrava em seu palácio; é glória minha
160 De um pai vir dos Cretenses endeusado,
Por opulência e muita clara prole.
No Orco o sumiu fatal necessidade:
Meus irmãos tudo em lotes partilharam,
Escassos bens e um teto me cederam.
165 Casei por meu valor com rica herdeira,
Pois fugaz, nunca fui nem vil e inerte:
Posto porém que as forças me falecem,
De tamanha miséria quebrantadas,
Pela palha avalia o que era a messe.
170 De Mavorte e Minerva obtive audácia:
Hostes rompi; se, infenso e belicoso
Da emboscada elegia os camaradas,
Nunca da morte o horror se me antolhava;
Sempre avante, os contrários punha em fuga,
175 De lança indo alcançando os mais ronceiros:
Tal em combates fui. Nunca me aprouve
Na família cuidar, cuidar nos filhos;
Sonhava em remos, naus, zargunchos, frechas,
Em petrechos de guerra sanguinosos:
180 Dos homens são diversos os prazeres;
Um deus nesse meu ânimo cevava.
Antes de irmos a Tróia, vezes nove
Regi corsários: da escolhida presa,
Aos matalotes sorteado o resto,
185 Locupletou-se a casa, e entre os Cretenses
Tive grande renome e autoridade.
Mas, decretando Jove aquela empresa
Tão matadoura, os povos me expediram
Adido a Idomeneu; sem resistirmos,
190 Que o público rumor nos obrigava,
Velejamos. Nove anos pelejou-se:
Ao décimo, assolada Ílio Priaméia,
Dispersa no regresso a frota Aquiva,
Ai! guardou-me o Satúrnio outros pesares!
195 “Um mês único estando em meus haveres
Com filhos e a mulher que esposei virgem,
A vogar para o Egito inclino a idéia,
E nove embarcações tripulo em breve,
Reses degolo e sagro; os divos sócios
200 De solenes festins seis dias gozam.
De Creta largo ao sétimo, e do puro
Bóreas ao fresco alento, qual se fosse
Veia abaixo, aportamos sem perigo,
Aos pilotos e ao vento encomendados.
205 À quinta singradura o Egito enxergo,
No rio surjo caudaloso e belo;
Exorto a se manter a bordo a gente,
E encalho as naus flutívagas, mandando
À terra exploradores. Estes loucos,
210 A impulsos do apetite, agros depredam,
Matam, mulheres e crianças roubam:
Mas, ao rumor, de madrugada acorrem
Éqüites e peões erifulgentes
Que enchem toda a campina e o Fulminante
215 Medo incutindo aos meus, nenhum resiste;
Cercados, parte a bronze agudo acaba,
É reduzido o resto a cativeiro.
Mesmo o deus (mais valera que eu no Egito
Falecesse e os trabalhos atalhasse)
220 Isto inspirou-me: o elmo da cabeça,
Do ombro tiro o broquel, deponho a lança;
Do rei boto-me ao coche e as plantas beijo.
Com mágoa do meu pranto, ele consigo
Dirigiu-me a seu paço; e, bem que de hastas
225 O sanhoso tropel me acometia,
Contê-los soube, atento ao Padre sumo,
Às injúrias dos hóspedes avesso.
     “Sete anos lá no Egito enriquei muito,
Pois muito me brindavam; mas, no oitavo,
230 Cadimo comilão, vezeiro e useiro,
Induziu-me à Fenícia pátria sua,
E me reteve. As estações volveram;
Para ajudá-lo na descarga, à Líbia
Fingido o avaro me arrastou, vender-me
235 Tencionando: embarco suspeitoso.
Creta avistamos com sereno Bóreas;
Mas, alagada a ilha, os céus e o ponto
Sós nos rodeiam; Júpiter cerúlea
Grossa nuvem desfecha, ofusca os mares,
240 Fuzila, toa; um raio a nau revira
E enxofra toda; a gente cai nas ondas,
Como alcatrazes de redor flutuam,
Da volta os priva um deus; que, em tanta afronta,
No mastro me salvou. Nele abracei-me
245 Dias nove, e à dezena escura noite,
Quase a morrer de frio e de fadiga,
Arrojou-me à Tesprócia um rolo d’água.
Do régio herói Fídon o amado filho,
Levantando-me, ao pai guiou-me afável,
250 Que me proveu de túnica e vestidos.
     “Lá foi que ao bom monarca ouvi de Ulisses,
Hóspede seu; mostrou-me os dons em cópia,
De ouro, de bronze ou trabalhado ferro,
Para dez gerações talvez sobejos:
255 Em depósito achavam-se no erário,
Dês que ao Dodônio falador carvalho
Foi-se o Laércio demandar a Jove
Se, após tão largo tempo, aqui regresse
Oculta ou claramente. O rei jurou-me,
260 Com libações, que a nau já tinha prestes
E a companha que à pátria o conduzissem.
     “Fídon, sendo teu amo inda em consulta,
Num Tesprócio navio, que a Dulíquio
Frumentária partia, remeteu-me
265 À real proteção do ilustre Acasto;
Mas, com malvado arbítrio, ao largo a gente,
Maquinando afundir-me em servil dia,
Despojam-me, e o que vês grosseiro trapo
Vestem-me e este gabão. Na tarde abordam,
270 Prendem-me à toste com torcida corda,
Saltam para cear na praia amena:
Fácil os mesmos deuses me desatam;
À cabeça o capuz, do leme ao fio
N’água deslizo, a braços remo e nado;
275 Inadvertido escapo, terra tomo,
De flório carvalhal me estiro à copa.
A suspirar procuram-me, e cansados
Vogam de novo: o Céu, pois meu destino
Inda é viver, manteve-me escondido,
280 E a benfazejo teto encaminhou-me.”
     E Eumeu: “Tal vaguear, tanto infortúnio,
Me abalou. Só de Ulisses nada creio:
Homem cordato, como assim mentiste?
Balda esperança! Em Tróia o Céu vedou-lhe
285 Morte egrégia ou nos braços dos amigos:
Honrara ao filho o túmulo exalçado,
E as harpias inglório o têm roído!
Solitário entre os porcos, só me movo
Da prudente Penélope ao chamado,
290 Quando há qualquer notícia. Os que a ladeiam,
Ou chorem meu senhor ou se comprazam
De gastar-lhe a fazenda, me interrogam:
Nada investigo, dês que um vago Etólio,
Neste alvergue hospedado por homizio,
295 Jurou que o viu na régia, estando em Creta
As naus a reparar de uma tormenta:
Que no estio ou no outono aqui seria
Com imensa fortuna e os divos sócios.
E tu, velho infeliz, que o deus me envia,
300 Não penses me agradar com tais embustes:
Não te honrarei nem te amarei por eles,
Sim porque temo a Jove e hei de ti mágoa.”
     Ulisses replicou: “Nem juramentos
Vencem-te a pertinácia! Ante os Supremos,
305 Sacro ajuste se firme: a vir teu amo,
Segundo os meus desejos, me transportes,
Com manto novo e túnica, a Dulíquio;
Senão, de alto os ajudas me despenhem,
Para que outro mendigo não te engane.”
310 Logo o pastor: “Minha virtude e fama
Agora e no porvir se manchariam.
Como! a vida arrancar-te, neste asilo
Depois de te acolher! Ao grã Tonante
Nunca mais suplicar me atreveria.
315 Hora é de ceia, e os sócios cá não tardam,
Para mais abundante a prepararmos.”
     Chegam nisto os serventes, e as manadas
A pernoitar encerram nos chiqueiros,
Que ressoam de roncos e grunhidos.
320 Insta-os o maioral: “Trazei-me um porco
Ótimo, que, imolado ao peregrino,
Regale-nos também, já que albidentes
Animais com fadiga pastoramos
E outros sem trabalhar impune os comem.”
325 Eis racha a bronze a lenha, e ao lar presentam
Um quinquene cevado. Não se esquece
Dos imortais; raspa da nuca o pêlo,
Queima em primícias, do amo a volta implora.
Um troço de carvalho não fendido
330 Na rês descarga; sangram-na, chamuscam,
Desentranham, dividem; na gordura
Eumeu porções do corpo todo envolve
E ao fogo os põe de farro apolvilhadas;
As postas a preceito assam de espeto;
335 E, do brasido à mesa vindo as carnes,
Alçado o justo Eumeu, conforme ao rito,
Forma sete quinhões: um vota às ninfas
E ao que nasceu de Maia, e os mais reparte
A cada comensal; o dorso inteiro
340 Do albidente por honra a Ulisses coube,
Que em júbilo exclamou: “Dileto a Jove
Tanto fosses, Eumeu, quanto me és caro.
Tu que nesta miséria assim me tratas!”
     “Do que há, disse o pastor, come a teu gosto
345 O deus, hóspede egrégio, os bens outorga,
Ou tira a seu prazer, pois tudo pode.”
E as primícias oferta aos Sempiternos,
Liba, o copo ao turrífrago sentado
Junto ao quinhão transmite. Os pães Melausio
350 Distribui, que o pastor, ausente Ulisses,
Sem sabê-lo Penélope ou Laertes,
Do seu comprara aos Táfios. Satisfeitas
Sede e fome, levanta o escravo a mesa,
E os convivas contentes vão deitar-se.
355 Brusca a noite, chovia sempre Jove,
Mádido sempre o Zéfiro espirava;
Por tentar se o capote lhe conceda
Solícito o pastor, ou qualquer outro,
Um conto Ulisses tece: “Eumeu, vós todos,
360 Escutai-me a vanglória; pois com vinho
Doudeja o sábio, cantarola e dança,
Ri solto, parla o que era bom calasse:
Ora desato a língua, e nada encubro.
Oh! saúde eu tivesse e o vigor d’antes,
365 Ao pormo-nos em Tróia de emboscada!
Ulisses comandava e o louro Atrida,
Sendo eu terceiro por escolha de ambos.
Ante o muro jazíamos armados,
Entre urzes e morraças pantanosas;
370 Bóreas esfria o tempo, geia e neva,
Encaramela o arnez; de escudo aos ombros,
Dormindo os mais embrulham-se em capotes;
O meu tinha esquecido, não cuidoso
De que gelasse, e de broquel e banda
375 Nítida vim somente. Um terço a noite
Já decorria, os astros resvalavam;
O cotovelo do vizinho Ulisses,
Que prestes me sentiu, belisco e falo:
— Solerte herói, domado pelo inverno
380 Vai-se-me a vida: falta-me o capote;
Que a túnica bastava persuadiu-me
Algum demônio, e agora é sem remédio. —
     “Ele, exímio no prélio e no conselho,
Com pronto aviso em baixa voz responde:
385 Cal-te não te ouça a escolta. — E ao braço e punho
Apoiando a cabeça: — Amigos, disse,
Visão divina o sono interrompeu-me;
Longe estamos da frota; alguém se apresse
A pedir a Agamemnon um reforço. —
390 Lesto levanta-se o Andremônio Toas,
Larga o purpúreo manto e à frota corre;
Seu manto enfio, e durmo até que fulge
A aurora em trono de ouro. Ah! se eu tivesse
Aquela idade e força, um dos pastores
395 Me daria um capote, em reverência
Ao homem de valor; mas, roto e velho,
Pouco socorro espero e poucas honras.”
Acode Eumeu: “Foi guapa a tua história
Nem discorreste em vão, cordato amigo.
400 Não te faleça roupa, ou cousa alguma
Que há mister suplicante peregrino;
Mas teus andrajos de manhã retoma;
De muda nada temos, uma andaina
De roupa há cada qual. Em vindo o filho
405 De Ulisses, te dará túnica e manto,
E os meios de partir para onde queiras.”
     Nisto, ao fogão lhe achega e alastra a cama,
Que de espólios cabruns e ovelhuns cobre;
Deita-lhe em cima o gabinardo espesso
410 Que em temporais tremendos envergava.
O herói se estira, muito perto os moços;
Porém não pôde Eumeu longe dos porcos
Pegar no sono, e, com prazer de Ulisses
De que houvesses tal zelo em sua ausência,
415 Para sair cortante espada ombreia,
Veste albornoz ao vento impenetrável,
Mais uma pele de crescida cabra;
Contra os mastins e os malfazejos dardo
Rijo empunha, e dormir foi com seus porcos
420 Em caverna de Bóreas abrigada.

NOTAS AO LIVRO XIV
21-57 - Vara de porcos, não vem em Constâncio, posto que venha em Morais, e que Lobo, na Corte na Aldeia, diga ser o mais próprio para significar a reunião destes animais. — Eumeu, com a pressa de ir buscar sustento para o hóspede, aperta mal o cinto. M. Giguet diz: “Eumée relève sa tunique, qu’il passe dans sa ceinture.” Diz Pindemonte: “La tunica si strinse col cinto, et alle spalle in freta mosse.” Nem um nem outro, parece-me, exprimiu o pensamento: o essencial e o belo é ter o pastor, com o afogo de servir o seu hóspede, atacado mal o cinto, para não perder tempo. Esta passagem assim entendida, como é forçoso que o seja à vista do texto, foi louvada por Chateaubriand.
182-186 - É antiquíssimo o costume de não se atender ao modo por que se ganhou a fortuna: fosse por furtos, vexações, pirataria, pouco importa; há dinheiro, e basta. Não raramente, as condecorações e os títulos vêm dourar o baixo metal de que se compõem certas riquezas; e no futuro os descendentes honrar-se-ão do negro tronco donde procedem.
237 - Alagar-se a terra é frase marítima, assim como arrasar-se, para exprimir que ela com o andar do navio tem desaparecido: falta nos dicionários.
409-416 - Gabinarda, ou gabinardo como dizem Filinto e outros, é um grande capote de mangas; vem em Morais e não em Constâncio. Quanto a albornoz, capa aguadeira de capuz, eu assim o pronuncio pelas razões do mesmo Constâncio, e não albernoz, como escrevem com Filinto alguns autores. Ir para o índice do livro