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A Justificação - IV


O Antigo Testamento utiliza duas formas diferentes do mesmo termo hebraico (hidsdik e tsiddek) para expressar o conceito de justificação. Esses termos, exceto em algumas passagens, não indicam uma mudança moral operada por Deus no homem, mas regularmente designam uma declaração divina a respeito do homem. Transmitem a idéia de que Deus, em sua qualidade de juiz, declara o homem justo (Dt 25.1; Pv 17.15; Is 5.23; Sl 143.2). O termo do Novo Testamento (dikaio-o) tem o mesmo significado, isto é, declarar justo (Rm 3.20-28; 4.5-7; Gl 2.16; 3.11; 5.4; Rm 8.33,34; Jo 3.18; 5.24; 2 Co 5.19). Entende-se, pois que o termo “justificar” não significa fazer, mas declarar justo.
1. A Natureza e as Características da Justificação
Por “justificação”, entende-se o ato pelo qual Deus declara posicionalmente justa a pessoa que a Ele se chega através da pessoa de Jesus Cristo. Esta justificação envolve dois atos: o cancelamento da dívida do pecado na “conta” do pecador, e o lançamento da justiça de Cristo em seu lugar. Tornado-se mais claro: justificação não é aquilo que o homem é ou tem em si mesmo, mas aquilo que o próprio Cristo é e faz na vida do crente. “Sendo justificados gratuitamente pela sua graça, pela redenção que há em Cristo Jesus, a quem propôs, no seu sangue, como propiciação, mediante a fé, para manifestar a sua justiça, por ter Deus, na sua tolerância, deixado impunes os pecados anteriormente cometidos; tendo em vista a manifestação da sua justiça, no tempo presente, para ele mesmo ser justo e justificador daquele que tem fé em Jesus (Rm 3.24-26). “Não se deve confundir justificação com regeneração. A justificação tem lugar fora de nós, junto ao trono de Deus, onde Ele nos declara justos. É, pois, coisa objetiva. A regeneração é obra divina operando em nosso interior. É por isso, subjetiva. A justificação é o veredito de Deus, e a regeneração é uma experiência humana. A justificação é o que Deus faz por nós; a regeneração é o que Deus faz em nós. A justificação muda a nossa posição, ou situação; a regeneração tem a ver com o nosso estado. A justificação muda a nossa relação para com Deus; já a regeneração muda a nossa “natureza” (Os Oitos Pilares da Salvação – Editora Betânia – Pág. 74).
2. Elementos da Justificação
Existem especialmente dois elementos na justificação, um negativo e outro positivo.
a) O Elemento Negativo
O elemento negativo da justificação é o perdão dos pecados com base na justiça imputada por Cristo. O efeito produzido pelo ato da justificação se aplica a todos os pecados passados, presentes e futuros por isso incluem a libertação de toda a culpa e castigo. Isto acontece devido ao fato de que a justificação não se pode repetir (Rm 5.21; 8.1,32-34; Hb 10.14; Sl 103.12; Is 44.22).
b) O Elemento Positivo
O elemento positivo da justificação se distingue em duas partes: primeiro a adoção de filhos e segundo o direito a vida eterna. Pelo processo da justificação Deus adota o crente como seu filho, conferindo-lhe todas as regalias decorrentes dessa filiação. Esta filiação por adoção deve ser distinguida da filiação moral dos crentes que resulta da regeneração e santificação. Deste modo os crentes são filhos de Deus, não apenas em decorrência da adoção, e portanto num sentido jurídico, mas também em virtude do novo nascimento, conseqüentemente num sentido espiritual (Manual de Doutrina Cristã – Editora Luz Para o Caminho e Ceibel – Págs. 232,233). Já o direito à vida eterna está virtualmente incluído no elemento precedente. Quando os pecadores são adotados como filhos de Deus, tomam posse de todos os direitos legais de filhos, e se tornam herdeiros de Deus e co-herdeiros com Cristo (Rm 8.17). Constituem-se herdeiros de todas as bênçãos da salvação na vida presente, e além dessas recebem o direito a “herança incorruptível, sem mácula, imarcescível, reservada no céu” para eles (1 Pd 1.4).
3. Obtenção e Conservação da Justificação
Os efeitos da justificação pela fé abrangem a totalidade da vida do crente. No passado, a fé justificou-o, libertando-o inicialmente da condenação do pecado. No presente, a fé continua a justificá-lo, libertando-o da prática do pecado. Na medida em que ele continua na fé, a justificação do crente culminará na glorificação, libertando-o para sempre da presença do pecado. “Desde o momento da conversão até o fim da vida terrena, a justificação é sempre a mesma. O crente poderá necessitar de perdão como filho do Pai, mas nunca mais será considerado criminoso perante o Juiz. A justificação é o ato de juiz; o perdão é o ato de pai. A justificação abrange o passado, presente e o futuro. A questão do pecado, entre a alma e Deus, foi resolvida para sempre. É possível o crente ser um filho desobediente, e assim necessitar da vara de castigo do Pai, mas nunca mais pode ser considerado pecador perdido e sujeito à condenação do Juiz” (A Doutrina da Salvação – EETAD – Pág. 70).
4. Os Benefícios da Justificação
A justificação não é uma experiência, é uma declaração legal de justiça, só possível mediante um relacionamento com Cristo. Esta declaração traz inúmeros benefícios à vida do crente justificado, entre os quais se destacam os seguintes:
a) Um Novo Relacionamento com a Lei
A justificação concede ao crente uma nova posição em relação à Lei de Deus. Uma vez que a lei divina exigia obediência como condição de o homem obter a vida eterna (Rm 8.3,4), e como o homem jamais foi capaz de cumprir inteiramente com as exigências divinas neste sentido, em vez de abolir a lei, Deus enviou Jesus Cristo para cumprir-la por nós (Mt 5.17). Deste modo, por meio de Jesus Cristo, “todo o que crê é justificado de todas as coisas das quais vós não pudestes ser justificados pela lei de Moisés” (At 13.39).
b) Um Novo Relacionamento com Deus
Mediante a justificação, a separação existente entre Deus e o homem por causa do pecado, é abolida através de Jesus Cristo, e transformada em “paz com Deus”. A ira de Deus é traduzida em benignidade, legal e completamente. “Justificados, pois, mediante a fé, temos paz com Deus, por meio de nosso Senhor Jesus Cristo... Logo, muito mais agora, sendo justificados pelo seu sangue, seremos por ele salvos da ira” (Rm 5.1,9).
c) Uma Nova Concepção da Culpa Pessoal
Mediante a justificação, o crente é uma pessoa livre do peso da culpa pessoal (Rm 5.1). No que pesem as lembranças dos pecados de outrora, e as acusações por parte do Diabo, o crente se mantém confiante na provisão justificadora de Deus em seu favor na pessoa de Cristo. Deste modo “quem intentará acusação contra os eleitos de Deus? É Deus quem os justifica. Quem os condenará? É Cristo Jesus quem morreu” (Rm 8.33). Independentemente do pecado outrora cometido, todo ele foi absolvido pela obra meritória de Jesus no calvário. “Quanto está longe o oriente do ocidente, assim afasta [o Senhor] de nós as nossas transgressões” (Sl 103.12).
d) Uma Nova Concepção do Futuro
A justificação tem o duplo mérito de nos liberta tanto da culpa do passado quanto dos temores do futuro. Uma vez justificado por Deus, o crente pode saber, nesse exato momento, que é salvo. Ele não precisa esperar até à consumação dos séculos, para ver se foi “suficientemente bom” para merecer a salvação. O crente encara com confiança o futuro, sabendo que, a qualquer momento, poderá entrar na presença de Deus, purificado de todos os seus pecados e vestido com as vestes da justiça do Cristo. “A fim de que, justificados por graça, nos tornemos seus herdeiros, segundo a esperança da vida eterna” (Tt 3.7). “Porque me cobriu de vestes de salvação, e me envolveu com o manto da justiça” (Is 61.10). Ler mais...

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