17 de setembro de 2025

Sobre o gnosticismo

Sobre o gnosticismo
O gnosticismo compreende a fusão de elementos cul­turais colhidos de diversos gêneros ou opiniões, até mesmo antagônicas, filosófico-religiosas. Surgiu no I Século da nossa Era. Visa conciliar todas as religiões e explicar o sen­tido mais profundo da "gnose". Sendo notadamente sincretista, o gnosticismo viu no cristianismo muitos elemen­tos de que podia lançar mão e usar da maneira como bem lhe parecesse.O gnosticismo se dividia em quatro classes distintas: sírio, egípcio, judaizante, e pôntico. Independentemente de classe, quanto à pessoa de Cristo, o gnosticismo procu­rava explicá-lo em termos filosófico-pagãos, ou da "teosofia".O gnosticismo de tipo sírio encontrou em Saturnino o seu principal arauto. 

Ele ensinava que há um Pai absolu­tamente desconhecido que fez anjos, arcanjos, virtudes e potestades; o mundo, porém, e tudo quanto nele existe, foi feito por anjos em número de sete...O Salvador, conforme Saturnino, não nasceu, não teve corpo nem forma, mas foi visto em forma humana apenas em aparência. O Deus dos judeus, segundo ele, era um dos sete anjos; visto que todos os principados quiseram destruir seu Pai, Cristo veio para aniquilar o Deus dos ju­deus e para salvar os que nele acreditassem. Esses são os que possuem uma fagulha da vida de Cristo. Saturnino foi o primeiro a afirmar a existência de duas estirpes de ho­mens formados pelos anjos: uma de bons e outra de maus. Sendo que os demônios davam seu apoio aos maus, o Sal­vador veio para destruir os demônios e os perversos, sal­vando os bons. Mais ainda, segundo Saturnino, casar-se e procriar filhos é obra de Satanás (Documentos da Igreja Cristã -Juerp – Pág. 68).

O gnosticismo tomou de empréstimo certos elementos do cristianismo e os introduziu em seu conceito geral de salvação. Cristo, por exemplo, era considerado pelos gnósticos como salvador, visto que dizem ter sido ele quem trouxe o conhecimento salvífico ao mundo. Mas este não é o Cristo da Bíblia; o Cristo do gnosticismo era uma essên­cia espiritual que emanara dos eons. Este Cristo não podia ter assumido a forma de homem. Quando apareceu sobre a terra, diziam os gnósticos, só parecia ter corpo físico. Ao mesmo tempo, os gnósticos também ensinavam que este Cristo não sofreu e morreu. O gnosticismo, em outras palavras, proclamava uma Cristologia docética.Face o perigo do ensino gnóstico para a integridade da doutrina Cristológica, Irineu afirmou que os gnósticos nun­ca receberam os dos do Espírito Santo e que desprezavam os profetas.

Sobre o docetismo

O docetismo afirmava que o corpo de Cristo não pas­sava de um fantasma; que seus sofrimentos e morte eram meras aparências. Deste modo pontificavam os apóstolos do docetismo: "Ou [Cristo] sofria e então não podia ser Deus; ou era verdadeiramente Deus e então não podia sofrer.

"O docetismo assumiu várias formas: ou negava a ver­dadeira humanidade de Cristo empregando teorias sobre corpo fantasmagórico, ou então escolhia certos aspectos da vida terrena de Cristo, como sendo potencialmente verídi­cos, enquanto negava o restante dos relatos bíblicos atra­vés de suas explicações. Estava em frontal oposição à de­claração joanina: "Nisto conhecereis o Espírito de Deus: todo o espírito que confessa que Jesus Cristo veio em carne é de Deus; e todo o espírito que não confessa que Jesus Cristo não veio em carne não é de Deus; mas este é o espírito do anticristo..."(1 Jo 4.2,3).

 Cerinto, habitante da Ásia Menor, defendia a opinião de que Jesus fora unido a Cristo, o Filho de Deus, por ocasião do seu batismo, e que Cristo abandonou o Je­sus terreno antes da crucificação. Acreditava que o sofri­mento e a morte de Jesus eram incompatíveis com a divin­dade de Cristo. Outra teoria docética, associada a Basílides, sugeria que ocorreu um engano, que Simão, o Cirineu, fora crucificado em lugar de Cristo, escapando Jesus, desse modo, da morte na cruz (História da Teologia – Concórdia S/A – Pág18).

Contra as heresias do docetismo, além do apóstolo João, se levantou Irineu, um dos líderes da Igreja antiga. Quanto ao docetismo, aos crentes seus contemporâneos, escreveu ele:"Torna-te surdo quando te falam de um Jesus Cristo fora daquele que foi da família de Davi, filho de Maria, nasceu autenticamente, comeu e bebeu, padeceu verda­deiramente sob o poder de Pôncio Pilatos, foi crucificado e morreu verdadeiramente... De que me valeria estar em ca­deias, se Cristo sofreu somente na aparência, como certos pretendem? Esses, sim, não passam de meras aparên­cias" (Documentos da Igreja Cristã – Juerp – Pág.68).

Sobre monarquianismo

O Monarquianismo negava basicamente o conceito trinitário da divindade. Sustentava que a doutrina da Trindade se opunha à fé no Deus único. Seus adeptos re­pudiavam a idéia da "economia", segundo a qual Deus, que certamente é um, rebelou-se de tal maneira que apareceu como Filho e como Espírito Santo. O monarquianismo se manifestou de duas formas: Dinamista e Modalismo.

a) O Monarquianismo Dinamista
O primeiro defensor desta forma de monarquianismo foi o curtidor Teodoto, que chegou a Roma vindo de Bizâncio no ano 190, como resultado de uma perseguição. Era hostil à cristologia do Logos e, em geral, negava a divinda­de de Cristo. Em vez disso, acreditava ser Cristo mero ho­mem. Nasceu duma virgem, mas apesar disso não passava dum mero homem. Era superior aos demais homens ape­nas com respeito à sua justiça. Mais especificamente, Teo­doto concebeu a relação entre Cristo e o homem Jesus do seguinte modo. Jesus vivera como os demais homens; por ocasião de seu batismo, contudo, Cristo veio sobre ele como um poder que estava ativo dentro dele a partir de en­tão... Considerava-se Jesus um profeta que não se tornou Deus, embora estivesse equipado com poderes divinos por algum tempo. Só se uniu a Deus depois de sua ressurreição (História da Teologia – Concórdia S/A – Pág. 58).

b) O Monarquianismo Modalista
A história responsabiliza Noeto e seus discípulos como divulgadores dessa forma de monarquinismo. Noeto rejei­tava a doutrina da Trindade divina, inclusive a cristologia do Logos e as tendências subordinacionistas implícitas ne­la. Para Noeto, apenas o Pai é Deus, e embora esteja oculto à vista dos homens, manifestou-se e se fez conhecer segun­do o seu beneplácito. Deus não está sujeito a sofrimento e morte, mas pode sofrer e morrer se ele assim o quiser. Ao dizer isto, Noeto procurou ressaltar a unidade de Deus. O Pai e o Filho não são apenas da mesma essência; são tam­bém o mesmo Deus sob nome e forma diferentes. Noeto ne­gou-se a diferenciar entre as três pessoas da Divindade. Como ele entendia o problema, podia-se dizer tão bem que o Pai sofreu como dizer que Cristo sofreu.

Sobre o sabelianismo

O sabelianismo, um movimento religioso organizado por Sabélio, cerca do ano 375, confundia a pessoa de Cristo apenas com uma faceta ou manifestação de Deus. Ensina­va que o Pai, o Filho e o Espírito Santo são uma só e a mes­ma essência, três nomes apenas dados a uma só e mesma substância. 

Propõe uma analogia perfeita tomada do cor­po, da alma e do espírito do homem. O corpo seria o Pai, a alma seria o Filho, enquanto o Espírito Santo seria para com a divindade o que o espírito é para com o homem. Ou tome-se o Sol: o Sol é uma só substância, mas com Tríplice manifestação: luz, calor e globo solar. 

O calor... é (análogo a) o Espírito; a luz, ao Filho; enquanto o Pai é representa­do pela verdadeira substância. Em certo momento, o Filho foi emitido como um raio de luz; cumpriu no mundo tudo o que cabia à dispensação do Evangelho e à salvação dos ho­mens, e retirou-se para os céus, semelhantemente ao raio enviado pelo sol que é novamente incorporado a ele.

O Espírito Santo é enviado mais sigilosamente ao mundo e, sucessivamente, aos indivíduos dignos de o receberem (Documentos da Igreja Cristã Juerp – Pág. 71).Atribui-se a Sabélio a frase: "Deus, com respeito à hipóstase é um, mas foi personificado na Escritura de várias maneiras segundo a necessidade do momento" (História da Teologia – Concórdia S/A – Pág. 59).