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Caríbdis de Homero Odisséia de Homero - Livro XII

Do rio Oceano ao pélago saímos,
Donde o Sol nasce e os coros são da Aurora,
E na praia da Eéia, a nau varando,
À espera que alvoreça, adormecemos.
5 Da manhã mal assoma a rósea filha,
De Elpenor o cadáver buscar mando:
Num teso litoral cortam-se troncos,
Em pranto o corpo e as armas lhe queimamos;
Túmulo erguido e uma coluna em cima,
10 No alto sepulcro se lhe fixa o remo.
Durante os funerais, Circe, que do Orco
Nos sabia de volta, apressurou-se
Com servas, que trouxeram pães e carnes
E roxo ardente vinho: “Ó tristes, clama,
15 Tendes, vivos calando ao fundo abismo,
Dupla morte, e os mais homens têm só uma.
Comei, bebei de dia, e na arraiada
Navegai; vossa rota, e em mar e em terra
Como eviteis o dano, hei de ensinar-vos.”
20 Persuadiu nosso peito. Em pingue bodo
Libanos; e, ao crepúsculo da tarde,
Sobre amarras dormindo a marinhagem,
Circe me toma a destra, a par se encosta,
Pergunta-me de parte; eu por miúdo
25 A satisfaço, e ela assim discorre:
“Pois bem; atende agora, e um deus na mente
Meu conselho te imprima. Hás de as sereias
Primeiro deparar, cuja harmonia
Adormenta e fascina os que as escutam:
30 Quem se apropinqua estulto, esposa e filhos
Não regozijará nos doces lares;
Que a vocal melodia o atrai às veigas,
Onde em cúmulo assentam-se de humanos
Ossos e podres carnes. Surde avante;
35 As orelhas aos teus com cera tapes,
Eusurdeçam de todo. Ouvi-las podes
Contanto que do mastro ao longo estejas
De pés e mãos atado; e se, absorvido
No prazer, ordenares que te soltem,
40 Liguem-te com mais força os companheiros.
     “Dali passado, a via não te aponto
Que te cumpre seguir; tu mesmo a escolhas.
Há dous penedos, que os Supremos chamam
Errantes onde fremem de Anfitrite
45 Ondas azuis, por onde nem transvoam
Fracas pombas, que a Jove ambrosia levam;
Precipita-se alguma, e o Padre logo
Produz outra e seu número completa.
Ai da próxima nau! maruja e lenho
50 Devoram chamas, furacões destroçam:
À de Argos só fadado foi transpô-los,
De Etas vogando; e ali talvez jazera,
Se não fora Jasão tão caro a Juno.
     “De um fere os céus o tope, calvo e a pique
55 De inverno ou de verão sempre enublado;
Vinte pés tenha e mãos, ninguém trepá-lo
Ou deslizar por seu declive pode.
Antro abre em meio para as trevas do Orco;
Lá forçar cumpre a voga, ó nobre Ulisses.
60 Dos bancos, por mancebo vigoroso,
Vibrada seta ao fundo não vingara,
Onde a ladrar se aloja o monstro Cila,
Como tenrinhos cães, horrenda aos olhos
Dos próprios deuses: pernas doze informes,
65 Seis tem longos pescoços, nas seis bocas
Dentuça tríplice, os colmilhos cheios
De negra morte; no antro semi-oculta,
Fora do báratro as cabeças lança,
Para cações pescar, delfins, baleias,
70 Que a sonora Anfitrite em barda cria.
Baixel de além surgir não mais se gaba,
Sem que um varão cada garganta engula.
     O outro, fronteiro e ao pé, se eleva menos,
De frecha o atingirias. Tem florente
75 Copada baforeira, e as turvas águas
Em baixo ao dia vezes três Caríbdis
Sorve e revessa três; mas, quando as sorve,
Se ao vórtice terrível te acercasses,
Nem por Netuno tu serias salvo.
80 Cose-te a Cila pois, amiúda o remo;
Seis é melhor perder que os sócios todos.”
     E eu: “Livre, ó deusa, da voraz Caríbdis,
Como de Cila poderei vingar-me,
Da ofensora dos meus?” — Tornou-me Circe:
85 “Guerras sonhas, demente, e contra numes?
Imortal, seva, tetra, inexpugnável,
O remédio é fugir da imana Cila:
Se tardas, junto à rocha armando o braço.
Temo que novamente as seis cabeças
90 Mais outros seis remeiros te arrebatem.
Veloz navegues, e a Cratéis implores,
Que essa pariu flagelo dos humanos,
Para do assalto posterior contê-la.
Vai rumo de Trinácria, onde o Sol gordos
95 Há sete armentos e rebanhos sete,
Cada manada com cinqüenta reses,
Que nunca se propagam, nunca morrem:
A Faetusa e Lampécia de áureas tranças,
Do Hiperiônio e de Neera filhas,
100 A mãe deusa educou-as, e em Trinácria
As destacou por guarda a pretas vacas
E ovelhas de seu pai. Se intactas forem,
Dificilmente abordareis à pátria;
Senão, te agouro aos teus e à nau ruína,
105 Ou tarde e só te salvarás aflito.”
     Circe retira-se ao luzir da aurora;
Embarco e mando suspender amarras;
A gente, pelas tostes ordenada,
A compasso verbera a salsa espuma;
110 Bom sócio, enfuna e sopra o vento em popa
Que invoca a ninfa de anelado crino;
Tudo a ponto, embarcamo-nos entregues
Às auras e ao piloto; eu mesto falo:
“Não somente um nem dous, amigos, saibam
115 O que a deusa das deusas me predisse,
Para informados ou morrermos todos
Ou da Parca fugirmos. Das Sereias
Evitar nos ordena o flóreo prado
E a voz divina; a mim concede ouví-las,
120 Mas ao longo do mastro em rijas cordas.
E se pedir me desateis, vós outros
De pés e mãos ligai-me com mais força.”
     Mal acabava, à ilha das Sereias
Avizinha-se a nau com vento fresco.
125 Súbito acalma, e um deus serena as ondas;
Já ferrado no bojo o pano arreiam,
Do liso abeto ao golpe alveja a espuma.
De cera um disco a bronze em porções corto,
Forte as machuco e as amoleço ao lume
130 Do Hiperiônio Sol, de homem por homem
Os ouvidos entupo; ao mastro em cordas
Atam-me pés e mãos, e aos remos tornam.
Eis, a alcance de um grito, elas, que atentam
O impelido baixel, canoro entoam:
135 “Tem-te, honra dos Aqueus, famoso Ulisses,
Nenhum passa daqui, sem que das bocas
Nos ouça a melodia, e com deleite
E instruído se vai. Consta-nos quanto
O Céu vos molestou na larga Tróia,
140 Quanto se faz nos consta n’alma terra.”
     Destarte consonavam: da harmonia
Encantado, acenei que me soltassem;
Mas curvam-se remando, e com mais cordas
Perimedes e Euríloco me arrocham.
145 Nem já toava ao longe a cantilena,
Quando os consócios, desuntada a cera,
Desamarram-me enfim. Remota a ilha,
Vejo em fumo e escarcéus, um ruído escuto;
Ao marinho rumor, de susto as vogas
150 Largaram de repente, a nau parou.
De banco em banco, afável os conforto:
“Provado, amigos, temos outros males;
Este não é maior que o da caverna
Do violento Ciclope; recordai-vos
155 Que o venceu meu denodo, engenho e tino;
Ânimo! obediência; altas maretas
Curvados açoutai. Permita Jove
Que do passe escapemos! Tu, piloto,
Pois meneias o leme, não te olvides:
160 Fora daquele fervedouro e fumo
Orça, o escolho fronteiro não te assalte;
Se discrepas incauto, a morte é certa.”
     Rendem-se às minhas ordens. Só de Cila
Não menciono o perigo inelutável,
165 Temendo que eles, de remar cessando,
Se agachassem no fundo. Eu mesmo esqueço
De Circe avisos; arnesado, empunho
Piques dous, e ao bailéu da proa corro
Para enxergar primeiro o pétreo monstro
170 Pernicioso aos meus: não pude, os olhos
Se bem cansasse em torno da atra rocha.
Pelo estreito gementes navegamos:
Cila é daqui; dalém, Caríbdis seva
Os salsos goles chupa: ao vomitá-los,
175 Ferve a chiar como a caldeira ao fogo,
Sobe o rocio e borrifa os cimos ambos;
Ao sorvê-los, parece remexer-se,
Toa horrorosa a penha, e em baixo a terra
Mostra areia cerúlea. Amarelecem
180 E, estando nela o exício afigurado,
Cila é que me arrebata uns seis guerreiros
De esforço e brio: olhando para os bancos,
Pernas lhes vejo e braços pelos ares;
Na agonia final por mim bramavam.
185 Qual de alto o pescador, por um caniço
Lançando em chifres de selvagem touro
Isca e dolo a peixinhos, para cima
Palpitantes os puxa; tais levanta
Cila os meus, que devora à boca do antro.
190 As mãos rugindo os míseros me estendem!
Mares vaguei, sofri cruéis tormentos;
Nunca um tal espetáculo assombrou-me.
     Atrás Cila e Caríbdis, avistamos
Ilha onde os nédios bois de larga fronte
195 E os rebanhos do Sol pastam sublime;
O mugir e o balar de bordo sinto:
Lembram-me anúncios do Tebano cego:
Lembra-me Circe, que vedou-me a entrada
Na ilha do Sol, delícias dos humanos;
200 Atribulado amoesto: “Ouvi-me, sócios.
Com paciência agouros de Tirésias
E os de Circe, que à ilha me proíbem
Do Sol portar, a todos nós funesta;
Dela o fusco navio impeli fora.”
205 Este anúncio os confrange, e molestou-me
Euríloco tenaz: “Ímprobo Ulisses,
Tu não cansas, teus membros são de ferro,
Pois de fadiga e sono a gente opressa
Na ilha vedas saltar onde aprestemos
210 Boa ceia, e à matroca temerário
Em trevas pelo ponto errar nos mandas.
Em procela, e noturna, onde abrigar-nos,
Se Noto ou Zéfiro em tufão rebenta,
Os mais duros às naus, mau grado aos numes?
215 Ceda-se à escuridão; toca a cearmos,
E o pélago amanhã sulque-se embora.”
     Do consenso geral tirei que a perda
Nos traçava um demônio: “Eis-me vencido,
Clamo, Euríloco! Ao menos jurai todos,
220 Em rês alguma não bulir nefandos;
O que Circe nos deu comei tranqüilos.”
     Juraram-me formais, e em porto ancoro
Ante uma fonte amena. Ao desembarque,
Curam da ceia; já repletos, lembram
225 Os que Cila voraz nos engolira,
Até que ao pranto lhes sucede o sono.
Da noite por um terço indo-se os astros
Grã borrasca o Nimbífero carrega,
Pego e terra embruscando, e rui do pólo
230 Denso negrume; e assim que a matutina
Aurora aponta, em gruta a nau pusemos,
De ninfas gentilíssimas assento.
Oro em conselho: “Mantimentos sobram;
Será fatal comermos bois e ovelhas
235 Do acre Sol, que vê tudo e tudo exouve.”
     Seu brio suadi. Sós Euro e Noto
Sopraram de contino um mês inteiro:
Pão tendo e vinho, abstinham-se das reses,
Cuidadosos das vidas; gastam mesmo
240 As vitualhas, pela fome urgidos
Que o ventre nos roía, à caça andamos
De aves e peixes, do que anzóis pilhavam,
Dardos, seta ou rojão. Pela ilha fui-me
Os deuses a rogar, se algum maneira
245 De sair me indicasse: as mãos lavando
Num abrigado, imploro à etérea corte,
Que me infundiu nas pálpebras o sono.
     O mal, no entanto, Euríloco sugere:
“Desgraçados, a morte é sempre feia,
250 Mas a pior é perecer de fome.
Os bois do Sol carnudo imolemos
Aos imortais, e ao claro deus sublime
Na pátria precioso orne-se um templo;
E se irritado, os outros consentindo,
255 For seu gosto afogar-nos, antes quero
Beber de um trago a morte em salsas ondas
Que ir em deserta ilha definhando.”
     Aplaudem-no; e, prendendo os mais vistosos,
De larga fronte e retorcidos cornos,
260 Que ante a rostrada fusca nau pasciam,
Das vítimas em torno aos deuses votam
Uns grelos de carvalho alticomado,
Por faltar branco farro. Preces findas,
Matam, esfolam, separando as coxas;
265 Das quais por cima, em duplo zerbo envoltas,
Põem miúdas porções do corpo inteiro,
E por não terem vinho para o fogo,
Água libando os intestinos assam.
Ao fixarem no espeto as gordas postas,
270 Sacudo o brando sono, e alvorotado
À praia me encaminho. Já não longe
Das carnes sinto o recendente cheiro;
Aos Céus triste bradei: “Júpiter padre,
Numes, em divo sono me ensopastes,
275 Para um tal sacrilégio perpetrarem!”
     Ao Sol voa Lampécia amplo-velada
O crime a delatar, e o Sol furente
Bramiu: “Jove, ó beatos sempiternos,
Puni-me do Laércio os companheiros;
280 Ah! mataram-me os bois, meu gosto e enlevo,
Quando eu subia ao céu, descia à terra:
Se vós não me vingais, vou-me a Sumano
A alumiar as sombras.” — E o Tonante:
“Ó Sol, aos deuses de luzir não cesses
285 E aos terrestres mortais: a raio ardente
Hei de o baixel ferir e incendiá-lo
No seio do atro mar.” — Isto Calipso
Me declarou, que o soube de Mercúrio.
     Chegando à praia, increpo homem por homem;
290 Nenhum remédio havia às mortas reses.
Manifestou-se a cólera suprema:
Peles serpeiam; carne assada ou crua
No espeto muge, a voz bovina soa.
Seis dias, não obstante, se nutriram
295 Do melhor da manada; e, o borrascoso
Vento acalmando ao sétimo, embarcamos,
E ereto o mastro, as velas desferimos.
     Some-se a ilha, o pólo e o mar só vemos
Eis cerúleo bulcão sobre o navio,
300 Retém-no um pouco, enegrecendo as ondas;
Mas em rajada Zéfiro estridente
Rompe os ovéns do mastro, que à ré tomba
Atirando o maçame na sentina,
E à popa o crânio do piloto racha;
305 Da tolda qual mergulhador caindo,
A alma gentil os ossos lhe abandona.
Jove troveja; o raio a nau revira
E enche de enxofre, deita a gente fora;
Como alcatrazes de redor flutuam,
310 Da volta os priva um deus. Ando e regiro,
Té que descose a vaga as amuradas
E joga o inerme lenho; pela base
Fende o mastro, e o sustenta uma correia;
Com esta ao casco o ligo e em tal jangada
315 Leva-me o vento. Zéfiro sossega;
Mas Noto áspero angústias me acrescenta,
Ir outra vez receio ao freto imano.
     Vago a noite; mas n’alva o escolho enxergo
De Cila e de Caríbdis, que medonha
320 Absorvia as maretas: eu, na altura
Da baforeira, à guisa de morcego
Me implico; os pés nem sento nem remonto,
Longe estando as raízes e a ramada
Que sombreia a voragem. Lá me agarro,
325 Té que, à hora em que o foro e os litigantes
Larga o juiz para cear, Caríbdis,
A meus desejos lenta, o mastro e o buco
Vomita: eu me despego, e na jangada
Baqueio estrepitoso, a braços remo.
330 O pai de homens e deuses, por salvar-me,
Tolheu que Cila então me lobrigasse.
     Nove dias labuto, e o Céu me aporta
Já na décima noite à ilha Ogígia,
Onde acolheu-me e acarinhou Calipso,
335 Deusa de humana voz. Que resta? Em casa
Ontem me ouviste e a casta soberana:
Repetir o narrado é fastidioso.”

NOTAS AO LIVRO XII
53 - Não obstante haver mais razões para pensar-se que a Cila e a Caríbdis de Homero estavam onde as pôs Virgílio, esta passagem dos Argonautas de Jasão excita não pequena dúvida, e formou um dos argumentos de Rochefort. É uma questão interminável.
246 - Abrigado, que Bernardes e outros substantivaram, neste sentido não vem nos dicionários.
302-309 - Amphoterou muitos vertem por dous, dizendo que ambos os cabos do mastro foram quebrados: eu cuido que a palavra quer dizer de uma e outra parte; porque o mastro não seguraram sós dous cabos, seguram vários de uma e outra parte, a que os nossos marítimos chamam ovéns: Rochefort aqui foi exato. — Alcatrazes são os corvos marinhos, e destes é que fala Homero.
320-324 - Neste lugar, prefiro Pindemonte a M. Giguet. Eis aqui a interpretação deste: “Je saisi les branches du figuier et je m’y tiens suspendu comme un oiseau de nuit, sans pouvoir affermir mes pieds ni monter jusqu’au tronc de 1’arbre; car je suis loin des racines, et je ne tiens que l’extrémité des longs et grands rameaux qui couvrent le gouffre de leur ombrage”. Ora, a estar Ulisses agarrado aos ramos, podia ir-se alando por eles adiante e chegar ao tronco; mas a sua posição era mais perigosa: estava agarrado ao mesmo tronco, sem poder alcançar os altos ramos nem as baixas raízes, e então aferrava-se como se fosse um morcego, e a comparação torna-se da maior justeza. Esta posição era própria e azada para deitar-se no destroço do navio sem tanto perigo; e, se se deitasse da altura dos ramos de uma grande árvore, far-se-ia em pedaços. O texto é imperioso. Ir para índice do livro.

Odisséia de Homero - Livro V

LIVRO V
Mal surge a Aurora do Titônio leito,
O mundo alumiando, à corte sua
Preside o poderoso Altitonante,
E Minerva solícita o Laércio,
5 Pela Ninfa retido, assim deplora:
“Ó padre, ó vós beatos sempiternos,
Cetrígero nenhum será benigno,
Reto e humano, sim duro e injusto e fero;
Pois ninguém, entre os povos de que Ulisses
10 Era um pai, já se lembra dos pesares
Que padece, impedido por Calipso,
Faltando-lhe galé que à pátria o leve
Pelo equóreo amplo dorso. O nobre herdeiro
Traçam-lhe assassinar, que a Esparta e Pilos
15 Foi do afamado pai colher notícias.”
     E o Nubícogo: “Filha, que proferes?
Não projetaste mesma o como Ulisses
Venha e se vingue? O filho guiar podes,
E a nau dos pretendentes retroceda”.
20 Vôlto a Mercúrio: “Núncio e amada prole,
Já já, que a ninfa de cabelos crespos
Solte o herói: Nem varão nem deus o ajude:
Em tecida jangada a curtir penas,
Ao vigésimo dia arribe à esquéria;
25 Donde os Feaces, a imortais propínquos,
Honrado a par de um nume, à terra o enviem,
Em nau de alfaias e ouro e bronze onusta,
Quanto nunca, se incólume tornasse,
Do espólio que lhe coube, transportara:
30 O lar e os seus rever tem por destino.”
Calça o Argicida os áureos seus talares,
Com que, parelho aos ventos, o amplo globo
E o vasto mar transcursa; a vara toma
Que, a seu prazer, dá sonos ou desperta;
35 À Piéria descai, e rui dos ares
E à tona d’água aleia, qual peixinhos
Por inquieto golfo o guincho caça,
Crebo na escuma as asas imergindo.
Já do azul ponto à ínsula apartada
40 Voa, e à gruta caminha de Calipso:
De longe tuia recendia e cedro,
Ardendo no fogão; melífluas árias
Ela entoava, a teia percorrendo
Com lançadeira de ouro. Em torno à gruta
45 Choupo, odoro cipreste, alno viceja;
Ali — extensas no bosque aninham-se aves,
Gaviões e bufos, linguareiras gralhas,
Ao marinho bulício afeiçoadas.
Fora, parreira de pubentes ramos
50 Flores em uvas; quatro fontes regam
De água pura, chegando-se e fugindo,
Aipos e violais em moles veigas:
Um deus pasmado ali se deleitava,
E o fez Mercúrio assim. Deve ver saciado,
55 Ele dentro penetra, e a ninfa augusta
Num relance o conhece; porque os deuses
Por distantes que morem, dão-se todos.
     Lá não encontra o generoso Ulisses,
Que era na praia, os macerados olhos
60 Pelo ponto infrugífero estendendo,
Em suspiros e lágrimas. Num trono
Maravilhoso e esplendido sentado,
A ninfa o inquire: “Venerando amigo,
De áurea vara a que vens? não vinhas dantes.
65 Cumprirei, no que possa, os teus mandados.
Hospitaleiros dons vou presentar-te.”
     Ela, em mesa que alçou, mistura ambrosia
E rubro néctar. Saboreia alegre
E diz Mercúrio: “Deusa, em deus perguntas
70 A que venho? Obrigado fui por Jove:
Quem voluntário atravessava o ingente
Pélago salso, onde cidade falta
Que nos sagre solenes hecatombes?
Mas transgredir-lhe as ordens não podemos.
75 Dos que os Priameus sitiados muros
Ao décimo ano destruíram, consta
Que tens contigo o mais desventuroso:
No regresso ofendida, excitou Palas
Tempestade em que os sócios pereceram;
80 Salvo abordou só ele às praias tuas.
Quer Jove que o mais breve o deixes livre;
Dos seus não morra ausente: amigos, pátria,
O alto paço rever, tem por destino.”
Freme Calipso e rápido responde:
85 “Cruéis sois todos, ínvidos, ciosos
De que em seu leito às claras uma deusa
Mortal admita e ame e aceite esposo.
Roubado Órion da Aurora dedirrósea,
O invejastes, vós deuses té que Febe
90 Casta e auritrônia o derribou na Ortígia
Com brandas frechas; de Jasão cativa,
Quando num trietérico pousio
Com ele Ceres de anelada coma
Ajuntou-se amorosa, a fulminá-lo
95 Foi pronto Jove: agora, ó deuses, tendes
Zelos desse homem, que salvei lutando
Sobre a quilha de nau despedaçada
Pelo mesmo Tonante, e que sozinho
Arrojoram-me à ilha as negras ondas.
100 Carinhosa acolhi-o, na esperança
De isentá-lo da morte e da velhice;
Mas do Satúrnio o mando irresistível
Execute-se, vague pelos mares
De novo o herói. Não posso despedi-lo;
105 Vasos faltam-me e nautas que o transportem
Por essa imana via: hei de contudo
Mostrar-lhe o como ileso à pátria volva.”
     “Despede-o já, replica-lhe Mercúrio;
Nunca irrites a Júpiter, nem queiras
110 Irado experimentá-lo.” Disse, e foi-se.
     Dócil a ninfa, se dirige à praia
Onde Ulisses longânimo gastava
A doce vida, os olhos nunca enxutos,
Saudoso e enfastiado; pois com ela
115 Por comprazer dormia constrangido,
E gemebundo, o ponto contemplando,
Passava o dia em litoral penedo.
Rosto a rosto lhe fala a deusa augusta:
“Cesse o pranto, infeliz, não te consumas;
120 Parte, consinto. Abate a bronze troncos,
De alto soalho ajeita ampla jangada,
Em que o sombrio páramo atravesses:
De pão te hei de prover e de água e vinho,
De agasalhada roupa; auras favônias
125 Te levarão seguro à terra cara,
Se esta for dos Supremos a vontade,
Que em saber o juízo me superam.”
     E arrepiado o herói: “Que teces, deusa?
Numa jangada queres tu que eu tente
130 As vagas horrendíssimas, difíceis
Às mesmas de iguais bordos naus altivas,
Do Etéreo aos sopros a exultar afeitas?
Não farei tal, solene se não juras
Que nenhum dano, ó deusa, me aparelhas.”
135 Sorri mansa Calipso, a mão lhe afaga:
“És ardiloso e desconfias sempre.
Já comigo o jurei; mas o orbe saiba,
O céu vastíssimo, a infernal Estige
(Grave aos numes terrível juramento),
140 Que nenhum dano, Ulisses, te aparelho:
No teu caso obraria o que proponho.
Férrea e iníqua não sou, mas compassiva.”
     E anda e Ulisses também, que entrado ocupa
O trono de Mercúrio; em frente, a ninfa
145 Lhe oferece o que os homens alimenta,
E as serventes a ela ambrosia e néctar.
Saciados ambos, começou Calipso:
“Voltar queres, astuto, em breve aos lares?
Embora, adeus. Se as penas antevisses
150 Que te aguardam, comigo em laço estreito
Imortal ficarias, bem que aneles
Tua esposa abraçar, cuja lembrança
Te rala de contino; em garbo e talhe
A sobrelevo; que as mortais não podem
155 Comparar-se em beleza às divindades.”
     Ulisses respondeu: “Sublime deusa,
Não te agraves portanto; eu sei que em tudo
A prudente Penélope transcendes,
Nem da morte és escrava ou da velhice;
160 Mas para os lares meus partir suspiro.
Se um deus me empece, como os já passados,
Suportarei constante os outros males.”
     Cai a noturna treva: ambos num leito
No amor se deliciam. Na alvorada,
165 Uma túnica e um manto Ulisses veste;
Veste a ninfa um sendal cândido e fino,
Faixa de ouro gentil ata à cintura,
Orna a cabeça de elegante coifa.
A despedir o amante resignada,
170 Érea forte bipene lhe fornece
De oleagíneo cabo artificioso,
Enxó dá-lhe amolada; aos fins o leva
Da ilha, onde medram árvores gigantes,
Choupo, alno, abeto e percutir as nuvens,
175 Secos e aptos a vencer caminho:
Depois que a selva mostra, à casa torna.
Ardente ele derruba troncos vinte,
Falca, desbasta, esquadra, alisa e talha.
Com trados volta a ninfa; o herói verruma,
180 Cavilha, junta as peças: quanto é largo
De nau de carga o bojo, obra de mestre,
Era a barca de Ulisses. Finca espeques,
Pranchas estiva, um tabulado forma;
Antena ao mastro anexa; mune o leme,
185 Contra escarcéus, com vergas de salgueiro;
Alastram-na pesados lígneos toros.
De lona, por Calipso oferecida,
Vela engenha, e de escotas e calabres
O mastro apruma; enfim, sobre alavancas,
190 A jangada escorrega ao mar divino.
Ao quarto Sol perfeito o seu trabalho,
Por despedida ao quinto a ninfa o lava,
Perfuma e veste; o vinho em odre fecha,
Num maior água, em saco os acepipes,
195 O sustento em surrão; tépidas auras,
Meigas invoca. O pano o divo Ulisses
Contente expande, lesto agita o leme;
Cortado o sono, as Plêiadas observa,
Tardo Bootes, a Carreta ou Ursa
200 Em Órion sempre fita ao revolver-se
A só que foge os banhos do Oceano:
Ir desta à esquerda lhe ordenou Calipso
Dias vários navega, até que enxerga,
Já no décimo oitavo, umbroso topes
205 Da mais vizinha terra, a dos Feaces,
Qual pavês a ondear no escuro pego.
     Vem da Etiópia e dos Sólimos serros
Netuno o avista; sacudindo a fronte,
Em si raiva: “Ah! que dele dispuseram
210 Na minha ausência os deuses! Quase tocas
Onde, Laércio, é fado os males findes;
Mas nem todos provaste”. Eis move o cetro;
Procelas concitando, altera as ondas,
A praia e o mar enfusca, assola os ventos;
215 A noite rui do céu; muge Euro, Noto,
Bóreas árido, Zéfiro insolente.
No peito esmorecido o herói murmura:
“Ai de mim! temo o anúncio de Calipso,
Que à pátria eu chegaria atormentado.
220 Jove de que bulcões enluta os ares!
Que lufadas, que brenhas, que borrascas!
Presente o exício tenho. Oh! três e quatro
Vezes ditosos os que em Tróia sacra
Por amor dos Atridas feneceram!
225 Acabasse eu na hora em que êneas lanças
Do Aquileu corpo em cerco me choviam!
Lá funerais houvera gloriosos:
Força é hoje beber indigna morte.”
     Nisto, empinado vagalhão desaba,
230 Horríssono investido a frágil barca:
Demite o leme e fora cai Ulisses;
Um tufão rende o mastro, e vela e antena
Longe arremessa. Os ventos o soçobram;
Vir ao de cima os escarcéus lhe tolhem;
235 Pesam-lhe as vestes que lhe deu Calipso.
Surde enfim, da cabeça escorrendo água,
Com ânsias vomitando os salsos goles;
Mas não se olvida, a nado o lenho aferra,
Senta-se vigoroso, engana a Parca.
240 Ele à matroca em vórtices flutua,
Como Áquilo outonal pela campina
Montões joga de folhas e de espinhos:
Noto, Euro, Bóreas, Zéfiro contendem;
Ora um, ora outro, apossam-se da presa.
245 Ino Cadméia, já falante moça
De torneado pés, que entre as marinhas
Deusas é Leucotéia, amiserou-se
Do seu penar; do fundo na figura
De um mergulho saindo e na jangada
250 A revoar pousando: “Infeliz, disse,
Porque o Enosigeu te aflige e vexa?
Ruja, que não sucumbes. Sê cordato,
As vestes e o madeiro entrega às vagas;
Lança-te a nado à ilha, onde um refúgio
255 Se te destina; toma, e aos peitos esta
Cinge, para salvar-te, imortal banda.
Ao negro ponto, às praias mal que atinjas,
Virando as costas, para trás a arrojes”.
     Dada a banda, as maretas remoinhando
260 Nas entranhas a escondem. Cauto Ulisses
Geme e hesita em seu ânimo divino:
“De um nume que ilusão! Desobedeço,
Pois a terra indicada é mui remota.
Antes sofrer com paciência, enquanto
265 A barca se sustém; nadar pretendo
Assim que a desconjunte a marulhada:
Outra nenhuma salvação me resta”.
     Grosso escarcéu Netuno eis sublevando,
Qual dissipa em tufão de palha acervos,
270 Traves destroça e tábuas furibundo:
Num dos pedaços leve o herói cavalga,
Despe-se, a banda cinge, prono estira
Os braços vigorosos, ardente nada.
A cabeça o tirano azul meneia,
275 Consigo diz: “Batido pelas ondas,
Padece agora, até que aos homens chegues
De Jove alunos; desta feita espero
Escarmentar-te”. E ao ínclito palácio
De Egas move os cavalos crinipulcros.
280 Palas não se descuida: aos outros ventos
Obstrui as vias, e os sopita e calma;
Deixa o Bóreas soprar e os mares quebra,
A fim que a salvo se introduza Ulisses
Entre os Feaces do vogar amigos.
285 Duas noites flutívago e dous dias
A cada instante a morte imaginava;
Mas na aurora terceira, quedo o ruído,
Sereno o ar, de cima de uma vaga
Olhos aguça e a ilha vê mais perto.
290 Como se alegra o filho, cujo enfermo
Pai dileto, por graças dos Supremos,
Sara de uma longuíssima doença,
De que um gênio odioso o atormentava;
Tal folga ele da terra e da floresta.
295 Nos pés se estriba e insiste; mas, a alcance
De um grito, ouve o murmúrio dos rochedos,
E a mareta a roncar na árida costa
E de alva aspersa escuma a cobrir tudo.
Busca em torno angra, porto ou surgidouro,
300 Acha recifes e ásperos cachopos.
     Dos joelhos frouxo e de alma quase morta,
Geme e em seu grande coração discorre:
“Ah! terra deu-me Jove inesperada,
Brenhas de água venci, mas onde aborde
305 Não me aparece; agudas pedras vejo
E a fremir escarcéus, e lisa penha
Escarpada e a raiz na profundeza.
Não posso os pés firmar para evadir-me:
Por mais que eu lide, à resvalente roca
310 Talvez do fluxo o ímpeto me esbarre;
Se além nado a encontrar ou seio ou passo,
Temo que entre gemidos a ressaca
Me empuxe e empegue, e infenso deus me lance
Algum dos monstros que Anfitrite cria;
315 Sei quanto me é contrário o grã Netuno”.
     Inda pensava, e à crespa riba um feio
Esto o rebate; e a cútis lacerava
E fraturava os ossos por Minerva
Se não fosse inspirado: a penha aferra
320 De ambas as mãos, e aguarda em ais que o rolo
O deixe ao recuar, mas o refluxo
Ao largo o arrasta e longe; e qual pólipo,
Que destacam da cama, traz pedrinhas
Apegadas aos pés, retém o escolho
325 Das fortes mãos tenazes a epiderme.
Da marejada opresso, ah! perecera
Contra o fatal querer, se a gázea Palas
A prudência do herói não reforçasse.
Do fundo acima vem, transnada e fende
330 Marulhos que bramindo a costa orvalham,
Uma abra demandando, enseada ou praia;
A foz emboca enfim de um rio ameno,
Tuto e limpo de pedras e abrigado;
Reconhecida a veia, orou devoto:
335 “Quem sejas, rio, atende as preces minhas;
Do furor de Neturno a ti recorro.
Um peregrino é sacro aos mesmos deuses:
Eu, peregrino errante, há muito sofro;
Suplico, ó rei, de mim te compadeças.”
340 Tranqüilo a correnteza o rio amaina,
Recebe-o em sua areia. Ele os nervudos
Braços contrai e pernas; combalido,
Inchado o corpo, alija amargas gotas
Pelos beiços e ventas; anelante,
345 Sem voz e extenuado, o corpo estende.
Resfolga e areja, anima-se, descinge
E entrega a banda ao rio, que a transporta;
Ino dela se apossa. Em apartado,
Num juncal se reclina, e o chão beijando,
350 Fala à sua alma grande: “Ai! que me resta?
Se ao relento pernoito às margens turvas,
O rocio matutino e as graves auras
Me abaterão de todo: em selva opaca,
A consentir-me estar cansaço e frio,
355 Dormirei sossegado; mas receio
Ser de feras escárnio e mantimento.”
     Reflete, e envia-se à floresta umbrosa,
Em monte ao pé do rio. Uma figueira
E um zambujo, a medrar na mesma touça,
360 Ali de modo achavam-se enredados,
Que nem úmidos sopros, sóis violentos,
Nem chuveiros a copa transpassavam:
Debaixo acama Ulisses tantas folhas,
Quantas para a abrigar dous ou três homens
365 Em rigoroso inverno bastariam;
Ledo se deita e chimpa-se no meio.
Qual, no extremo de um campo sem vizinhos,
Conservando semente para o fogo,
Mete alguém seu tição na escura cinza;
370 O paciente herói se esconde nelas.
Palas, porque o descanse das fadigas,
Lhe derrama nas pálpebras o sono.

NOTAS AO LIVRO V
120-121 - É notável que a descrição da jangada assim aqui como mais adiante, case inteiramente com o que vemos hoje em dia. As que andam nas costas de muitas províncias do Brasil têm o mesmo soalho de que fala Homero, com um banco alto onde os jangadeiros atam os cabos da vela. Este soalho ou tabulado é um como tombadilho, mas não comparável aos dos navios; e eu o chamara jirau, nome da língua geral dos indígenas usado para significar o objeto, se não temesse a pecha de querer acaboclar a linguagem de Homero. Pobre tradutor do poeta, já me vi metido em uma jangada na costa do Ceará, a qual saía ao mar pela primeira vez e tinha uma vela descompassada; virou-se, e tive de perder entre as grossas vagas chapéu, sapatos e meias: foi este um dos grandes perigos em que me tenho achado. A ninfa Ino certamente não me acudiu nem me emprestou a cintura de salvação, como fez a Ulisses; mas outra jangada, maior e melhor, veio em socorro nosso, e levou-me de pés descalços a bordo do brigue português Aurora, que me transportou ao Maranhão. Os velhos gostam de memorar as suas aventuras.
148-155 - Rochefort, cujas reflexões acerca de Homero são de ordinário cordatas, é um dos seus mais insuportáveis tradutores: nesta fala, não só alambica as expressões amatórias, mas empresta ao singelo autor cousas alheias ao seu pensamento, chamando a Penélope, v. g., vulgaire objet d’une folle tendresse; e, gabando-se Calipso da sua beleza imortal, acrescenta: Car j’ai lieu de penser que mon air et mes traits, Ne sont point au dessous de ses faibles attraits. Busquei nada emprestar ao poeta: coteje o leitor paciente o original com as nossas duas traduções.
193-195 - Calipso não só meteu num surrão os mais necessários comestíveis, mas também num saco vários manjares delicados ou acepipes. Em vez de seguir o original nestas interessantes miudezas, traz Rochefort os seus dous versos: Tout chargé des présens qu’une amante attendrie Remet, en soupirant, à 1’amant qui 1’oublie. E explica em nota quais eram os presentes, dizendo que os suprimia, porque o francês não podia exprimir tais particularidades! M. Giguet e outros modernos têm mostrado quão fútil é a censura que era moda fazer à língua francesa.
206 - Afirmam que o rinón do original é uma nuvem, e termo da língua dos Ilírios; mas Homero não escreveu nessa língua. Podia a ilha Esquéria, ou seja Corfu ou qualquer outra, apresentar-se a Ulisses por algum lado que tivesse a figura de um escudo; ao menos é o que diz o poeta. Junto a Santos no Brasil há uma ilha que chamam a Moela, por ter a forma deste estômago das aves depois de aberto e como costuma vir às mesas; uma das maravilhas do nosso globo, é o agregado de montanhas do Rio de Janeiro que todas juntas representam um gigante deitado: que impossibilidade há de oferecer uma ilha a figura de um escudo? A maior parte dos tradutores cingem-se a este sentido.
359 - Opinei, em nota à Ilíada, que éphineòs não era em geral figueira brava, mas uma chamada baforeira: aqui opino que phuliès também não é figueira brava em geral, mas aquela que os Latinos dizem olester, e nós dizemos azambujeiro ou zambujeiro ou zambujo. Os que traduzem não especificadamente são obrigados a confundir as duas árvores, isto é, a que Homero denomina éphineòs com a que denomina phuliès: quem traduz os antigos deve ser escrupuloso nestas particularidades, que, não sendo sempre essenciais, podem sê-lo algumas vezes. Ir para o índice do livro.