Parece
unânime a opinião dos estudiosos das Escrituras quanto à
dificuldade de conciliar o estudo da doutrina da Igreja com o estudo
relacionado com o Reino de Deus. O problema geralmente começa com as
questões: Deve o Reino de Deus, em algum sentido da palavra, ser
identificado com a Igreja? Se não, qual a relação entre ambos? A
busca de resposta a esta questão, passará, sem dúvida à análise
das seguintes questões:
1.
O Reino e a Igreja
Achar-se
o tipo de relação porventura existente entre Reino de Deus e a
Igreja dependerá do conceito que o cristão tiver do Reino.
Conclui-se, pois, que, se o conceito que o cristão fizer do Reino
estiver correto, ele nunca deverá ser identificado com a Igreja."O
Reino é primeiramente o reinado dinâmico ou o domínio soberano de
Deus e, derivadamente, a esfera na qual tal soberania é
experimentada. De acordo com a fraseologia bíblica, o Reino não
deve ser identificado com as pessoas que pertencem a Ele. Elas são o
povo do domínio de Deus que entra no Reino, vive sob a autoridade do
Reino, e é governado e orientado pelo Reino. A Igreja é a
comunidade do Reino, mas nunca o próprio Reino. Os discípulos de
Jesus pertencem ao Reino como o Reino lhes pertence; mas eles não
são o Reino. O Reino é o domínio de seus; a Igreja é uma
sociedade composta por seres humanos” (Teologia do Novo Testamento
– JUERP – Pág. 106).
2.
A Igreja Não é o Reino
O
Novo Testamento nunca confunde Igreja com o Reino. Os primitivos
pregadores do Evangelho pregaram o Reino de Deus e não a Igreja (At
8.12; 19.8; 20.25; 28.23,31). Portanto é impossível confundir
"reino" por "igreja" na fraseologia
neotestamentária. As únicas referências ao povo de Deus como
Basiléia encontram-se em Apocalipse 1.6 e 5.10; mas as pessoas que
recebem tal designação recebem-na, não em virtude de serem as
pessoas que estão sob o domínio de Deus, mas porque são
participantes do reino de Cristo. “... e eles reinarão sobre a
terra" (Ap 5.10). Nestas declarações, "reino" é
sinônimo de "reis", e não de pessoas sob o governo de
Deus. Deste modo é confuso afirmar como fez Sommerlarth, que "a
Igreja é a forma assumida pelo Reino de Deus no intervalo existente
entre a ascensão e a parousia de Cristo"; ou como disse
Gilmour: "A Igreja, (não como instituição, mas como
comunidade amada) tem sido o Reino de Deus dentro do processo
histórico".
3.
O Reino Cria a Igreja
O
domínio dinâmico de Deus, presente na missão terrena de Jesus,
desafiou o homem no "Sentido de manifestar uma resposta positiva
à sua mensagem, introduzindo-o em um novo grupo de comunhão. Deste
modo, a manifestação do Reino de Deus assinalava o cumprimento da
esperança messiânica do Antigo Testamento, prometida a Israel. Mas
quando Israel como um todo rejeitou a oferta do Reino, aqueles que a
aceitaram foram constituídos o novo povo de Deus, os filhos do
Reino, o verdadeiro Israel, a igreja incipiente. Assim "a Igreja
não é senão o resultado da vinda do Reino de Deus ao mundo por
intermédio da missão de Jesus Cristo" (Teologia do Novo
Testamento – JUERP – Pág.106). A Igreja visível e histórica,
tem um duplo caráter. Ela se constitui no povo do Reino, contudo,
ela não forma o povo em seu caráter ideal, uma vez que tem no seu
seio pessoas que não podem ser indicadas realmente como filhos do
Reino. Por isso se conclui que a entrada no Reino de Deus significa
participação na Igreja; mas a entrada na Igreja não é uma
expressão equivalente da entrada no Reino de Deus.
4.
A Igreja dá Testemunho do Reino
A
Igreja é ineficaz para edificar o Reino é fazê-lo prosperar; no
entanto, tem ela o dever e a autoridade de testemunhar do Reino e
para o Reino. Este testemunho diz respeito aos atos redentores de
Deus por meio de Jesus Cristo, cobrindo todo o período compreendido
pela Dispensação da Graça. Os doze enviados, de Mateus 10 e os
setenta, de Lucas 10, tinham o mandamento expresso de testemunhar do
Reino. A comissão desses primeiros discípulos de Jesus parece se
revestir de grande simbolismo para a Igreja hodierna. Portanto, é
tarefa da Igreja viver e demonstrar a vida e a comunhão do Reino de
Deus e da Era Vindoura numa era escravizada pela perversidade e
egoísmo, orgulho e animosidade. Esta demonstração da vida
característica do Reino é um elemento essencial do Testemunho da
Igreja em favor do Reino de Deus. A Igreja pode e tem o dever de
orar: “Venha o teu reino...”
5.
A Igreja é a Agência do Reino
Os
primeiros discípulos de Jesus, além de proclamarem as boas-novas
afetas à presença do Reino, consideravam a si mesmos agentes
instrumentais do Reino. Pesava sobre seus ombros a grande comissão
dada por Jesus antes de voltar para o seio do Pai. Deste modo, a
partir daí, eles consideravam que o que eles faziam era como se
Jesus Cristo mesmo, em pessoa, tivesse realizado. Assim tal como fez
Jesus quando, visivelmente entre eles, quando eles curaram enfermos,
expulsaram demônios e ressuscitaram mortos (Mt 27.10.8; Lc 10.17).
Os discípulos tinham ciência de que o poder de que dispunham para
realizar a obra de Deus, fora outorgado por delegação, mas não
tinham a menor dúvida de que esse poder neles e através deles
operante, tinha a mesma eficácia que o poder operante no ministério
terreno de Jesus. Uma vez que o poder que dispunham para realizar a
obra de Deus não lhes pertenciam como condição inata, não tinham
porque se vangloriar. Ao manifestar a decisão de fundar a sua Igreja
triunfante Mt 16.18), Jesus estava garantindo que as forças das
trevas e do inferno haveriam de recuar ante a manifestação
aterradora do Reino através da ação notória da Igreja vitoriosa.
6.
A Igreja: a Guardadora do Reino
Os
rabinos judaicos antigos tinham Israel na conta de guardador do Reino
de Deus, segundo eles, inaugurado na terra nos dias de Abraão,
finalmente entregue a Israel quando da outorga da Lei no Sinai. Uma
vez que Israel foi feito guardião exclusivo da Lei divina, o Reino
de Jesus se tornava posse exclusiva de Israel. Quando um gentio
queria fazer parte desse Reino, tinha de se deixar proselitizar, ou
se judaizar. Só após essa "conversão" o judaísmo é que
o gentio podia se considerar súdito do Reino. Era indispensável a
mediação de Israel, uma vez que só o israelita era considerado
"filho do Reino".Na pessoa de Jesus Cristo, o domínio de
Deus manifestou-se em um novo evento redentor, demonstrando, de um
modo totalmente inesperado, os pobres do reino escatológico dentro
do cenário da história humana. Como a nação de Israel rejeitou
por completo esta nova forma de manifestação do Reino de Deus, a
porta da graça divina se abriu para o mundo gentílico. A barreira
de separação existente entre judeus e gentios fora derribada. Já
não haveria "filhos exclusivos" do Reino. Súditos do
Reino seriam todos aqueles que absorvessem a revelação divina
trazida por Jesus Cristo. Os discípulos de Jesus, a sua ekklesia,
agora se tornaram os guardadores do Reino, em lugar da nação de
Israel. O Reino é tirado de Israel e dado a outro povo - a ekklesia
de Jesus. Deste modo, os discípulos de Jesus não somente dão
testemunho a respeito do Reino; eles não apenas se constituem em
instrumento do Reino, à medida que este manifesta o seu poder nesta
Era presente, eles são também os guardadores do Reino (Teologia do
Novo Testamento – JUERP – Pág. 110). Ler mais...
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