Entre os ensinamentos apresentados na epístola de Tiago, encontramos aquele que diz respeito à fé evidenciada por meio das obras (Tg 2.14,22). Tal afirmativa, parte do princípio de que somos salvos para servir integralmente a Deus. Pois a nossa fé não consiste somente em discurso, e sim, na prática do que cremos (vv.15-20). Assim, a salvação proclamada por Cristo trouxe significativa influência sobre a nossa maneira de pensar e viver. De modo que já não andamos mais de acordo com os rudimentos deste mundo em uma vida desregrada e distante de Deus. Mas como afirma o apóstolo Paulo: “Já estou crucificado com Cristo; e vivo não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na carne, vivo-a na fé do Filho de Deus” (Gl 2.20). Da mesma forma, desejamos viver agradavelmente diante ao Senhor. Por isso, a prática da justiça não deve ser estranha aos que experimentaram o novo nascimento, antes, deve ser um hábito que sucede espontaneamente. A nova vida em Cristo é abundante “em frutos de justiça”, uma vez que os crentes abdicaram das práticas ilícitas que antes dominavam a sua consciência e agora vivem de forma harmoniosa com a vontade de Deus. A lição desta semana nos levará a refletir sobre as obras de justiça decorrentes da fé que são evidências daquilo que cremos. Nesse ensinamento, o professor deverá levar a classe a pensar sobre a essência desta fé que regenera e nos torna testemunhas fiéis de Cristo neste mundo. Há uma razão pela qual isso é possível e Deus deseja que esta verdade seja realidade na vida de seus filhos.
A natureza da Salvação
Em primeiro lugar, é importante ressaltarmos que a base da salvação está na justificação pela fé (cf. Rm 3.24-26; Ef 2.8). À medida que cremos no sacrifício de Cristo na cruz do Calvário, somos justificados da culpa do pecado conforme afirma o apóstolo Paulo: “Sendo, pois, justificados pela fé, temos paz com Deus por nosso Senhor Jesus Cristo; pelo qual temos entrada pela fé a esta graça, na qual estamos firmes; e nos gloriamos na esperança da glória de Deus” (Rm 5.1,2). Assim, a morte vicária de Cristo no Gólgota é a causa da nossa redenção, de maneira que já não somos mais “devedores a carne” (Rm 8.12), pois “a nossa culpa foi expiada” (cf. 3.25). De acordo com o Dicionário Bíblico Wycliffe, “o termo justificação vem do grego dikaiosis que se refere ao julgamento judicial. Não significa tornar reto ou santo, mas anunciar um veredicto favorável, declarar ser justo. Este significado é patente tanto no Antigo quanto no Novo Testamento (heb. tronco hiphil de sadaq, ‘declarar justo’; gr. dikaioo, ‘vindicar, inocentar, pronunciar e tratar como justo’). O ato de ‘justificar’ é contrastado com o ato de ‘condenar’ (cf. Dt 25.1; 1 Rs 8.32; Pv 17.15; Rm 8.33); e assim como condenar é o meio de tornar alguém ímpio, justificar é o meio de tornar alguém justo” (CPAD, 2010, p.1123). Desse modo, a natureza da nossa salvação está no fato de que somos justificados de toda culpa dos pecados cometidos sob a paciência de Deus, mediante a fé em Jesus Cristo (Rm 3.25). Há exemplo de Abraão, que “creu em Deus, e foi-lhe isso imputado como justiça” (cf. Gn 15.6), os crentes também encontram a justificação diante de Deus por meio da justiça de Cristo, imputada aos que creem em seu sacrifício sobre a cruz. Com efeito, a salvação muda o estado do homem que antes era de condenação, transformando-o em “filho de Deus”, para uma vida de paz e comunhão com o Criador (cf. Rm 5.1; 8.1).
Uma nova maneira de viver
Assim, o Evangelho do Reino anunciado por Jesus consiste na prática da misericórdia, da justiça e do amor ao próximo (Mt 4.17; 23.23). Com isso, os que recebem as “boas novas” de bom grado, experimentam a liberdade da graça que não os deixa permanecer sob o domínio do pecado (cf. Rm 6.17-22). Este mesmo evangelho, Paulo trata como “o poder de Deus para salvação de todo aquele que crê” (Rm 1.16). O apóstolo dos gentios confirma esta prerrogativa também aos coríntios: “Assim que, se alguém está em Cristo, nova criatura é: as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo” (2 Co 5.17). Do mesmo modo, Tiago assegura que o ato redentor de Cristo, trouxe regeneração ao entendimento do homem, que outrora estava entenebrecido por conta do pecado (cf. Tg 1.18). Pela graça divina, as obras ilícitas cometidas no tempo da ignorância, converteram-se em frutos de justiça para glória de Deus (At 17.30). Pois a nova vida debaixo da graça transforma o pecador em nova criatura, cujos valores e modo de pensar são opostos aos rudimentos deste mundo, onde predominam a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida (cf. 1 Jo 2.16). Logo, os que são justificados do pecado, estão livres da condenação eterna, visto que passaram da morte para a vida e, por isso, devem manter uma conduta em santificação e honra diante de Deus (Jo 5.24; 1 Ts 4.4). É importante ressaltar também, que a vida cristã não é “uma escravidão para outra vez estarmos em temor” (Rm 8.15), porquanto, não estamos mais debaixo da servidão do pecado (Rm 6.14,22). Apesar disso, há muitos que, por falta de conhecimento da Palavra, ainda se submetem aos rudimentos deste mundo e precisam ser libertos do legalismo que domina o coração (cf. Fl 3.19). A vida em Cristo considera que o Reino de Deus tem a primazia e que todas as outras coisas são provisões divinas decorrentes da obediência e confiança em Deus (Mt 6.31-33). Portanto, sendo gerados de novo, convém que os crentes mantenham a conduta coerente com a Palavra, de maneira que as suas obras manifestem o testemunho de Cristo ao mundo (cf. Tg 1.18).
A influência da salvação produz obras de justiça
Da mesma maneira, o apóstolo Paulo continua a discorrer que “a salvação é pela graça, por meio da fé; e isso não vem de vós; é dom de Deus. Não vem das obras para que ninguém se glorie” (Ef 2.8,9). Vemos aqui que estas obras se referem à jactância do cumprimento da Lei mosaica que era impotente para justificar o homem do pecado. A intenção da Lei era somente trazer à humanidade a consciência da transgressão para que o homem reconhecesse que não poderia justificar-se por conta própria diante de Deus. Assim, não somos salvos pelas obras, mas para a prática de boas obras. Porquanto, “somos criados em Cristo Jesus para as boas obras, as quais Deus preparou para que andássemos nelas” (v.10). No Comentário Bíblico Novo Testamento de Matthew Henry: Atos a Apocalipse, o autor pondera da seguinte forma, o que muitos chamam de contradição, os relatos de Paulo e Tiago referente à “fé e obras”: “Quando Paulo diz que ‘...o homem é justificado pela fé, sem as obras da lei’ (Rm 3.28), ele claramente fala de um outro tipo de obras do que Tiago tem em mente. Paulo fala em obras realizadas em obediência à lei de Moisés, e antes de o homens abraçarem a fé evangélica. E ele estava lidando com aqueles que se valorizavam tanto por conta das obras que rejeitavam o evangelho (como Romanos 10 declara expressamente no início); mas Tiago fala de obras realizadas em obediência ao evangelho, e como efeito e frutos apropriados e necessários a sólida fé em Cristo Jesus. Ambos estão interessados em exaltar a fé do evangelho, como aquele que somente pode nos salvar e justificar; mas Paulo o exalta ao mostrar a insuficiência de quaisquer obras da lei antes da fé, ou em oposição à doutrina da justificação por Jesus. Tiago exalta a mesma fé ao mostrar quais as realizações e os produtos genuínos e necessários dela”. (CPAD, 2010, p.835). Portanto, é por meio da graça divina que os crentes cumprem a justiça de Deus, não por conta própria, mas por meio de uma fé dependente da ação do Espírito Santo em suas vidas (Rm 7. 21-25; 8.14).
Considerações finais
Assim, podemos concluir que a obra de salvação realizada no Calvário influencia significativamente em nossa maneira de viver e de pensar. A partir do momento que entendemos nitidamente em que consiste a natureza da salvação, reconhecemos que, por mais corretos que sejamos aos olhos dos homens, somente a graça manifestada em Cristo tem o poder de nos justificar e apresentar santos perante Deus. Com efeito, as obras de justiça que praticamos são evidências daquilo que cremos. Por esta causa, Tiago afirma que “uma fé sem obras é morta em si mesma” (cf. Tg 2.17), pois se torna necessário que esta fé testemunhe diante dos homens a sua veracidade por meio das obras de justiça. Logo, não é simplesmente pelo falar, e sim, pela conduta que testemunhamos as verdades encontradas no evangelho. E somente os que são verdadeiramente regenerados pela verdade demonstrarão a justiça em seus feitos, pois experimentaram o novo nascimento (cf. Jo 3.5; Tg 1.18). Considerando tais afirmativas, importa que nesta lição o professor observe o assunto principal que nos fala a respeito das obras como evidências contundentes da fé; debata com a classe em relação à importância de como as obras caracterizam a nossa identidade cristã diante do mundo, porquanto, “somos feituras de Deus, criados em Cristo Jesus para a prática de boas obras” (cf. Ef 2.10). Fonte: EBD.
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